Histórias de Remadores

Publicado por historiasderemador em

Acordar cedo só é bom quando saímos para viajar ou remar. Mas remar não é viajar?

Saímos do Campeche, na parte Sul de Florianópolis, numa terça-feira, 21 de dezembro em direção ao Ribeirão da Ilha, destino Marine EcoPark, próximo a Igreja Nossa Senhora da Lapa do século XIX. Objetivo, reencontrar depois de décadas, nosso amigo Bernardo da KahunaSul, para nós remadores, o Batfino.

Este início de relato pode parecer que partimos numa missão oficial, para estabelecer marcos geodésicos, mas estávamos na busca de mais #historiasderemador, e como elas verteram de forma mais que natural.

Passadas tantas décadas, o Batfino, campeão brasileiro num quatro sem peso leve em 1987, hoje está numa outra categoria, a do “peso experiente”. O que acontece com atletas de alto rendimento, é que as experiencias adquiridas, nem sempre cabem na memória ou no coração, sendo depositadas paulatinamente ao longo do tempo, na faixa adiposa no cinturão mediano, mais conhecido como barriga e cartucheiras.

Mas as pessoas mais experientes, sabem que a felicidade é o caminho, e o sorriso fácil do Batfino continua cada vez mais amplo. Não sei se a sua liderança é fruto deste sorriso, ou se este sorriso é porque ele lidera com naturalidade uma equipe com pessoas únicas e exclusivas, como todos nós somos, mas que dentro da canoa são uma alma só.

Interessante observar que as pessoas se aprimoram com o passar do tempo, e o remo é uma grande escola para isto. Desenvolver a liderança, é uma delas. Cada vez mais penso que TODOS os remadores são líderes, mas o grande líder ao final, é o Barco. É ele que dita as normas, é ele que diz a verdade, e nunca, nunca mesmo, aceita mentiras.

O sotaque carioca não se perdeu, e nunca se perderá, sua ligação com o mar, com a água também não.

A remada começa com a descida das duas canoas com quatro posições cada uma, fundo mais largo e chato, um pouco mais curta do que uma OC6. Atravessamos a rua principal do Ribeirão, pouco antes de chegar à rampa de concreto, montamos as “ahas” das canoas.

Batfino explica que “aha” na linguagem polinésia, pode significar conexão, união, ou até mesmo um “contrato de compra e venda”, pois pode ser desfeito. Mas por que as “ahas” em borrachas podem ser desfeitas? Isto não causa insegurança a embarcação?

Devemos lembrar que a baía de águas calmas do Ribeirão, não são as mesmas onde as ilhas vulcânicas se digladiam com o mar, e é justamente esta possibilidade de desconexão e conexão, que dão segurança a embarcação, servindo como alívio num caso de ondas fortes.

Aqui vale uma associação que aprendemos na nossa profissão quando trabalhamos em altura, a preparação e inspeção dos nossos equipamentos individuais, tal qual as “ahas”, DEVEM ser feitas pela própria pessoa que a utilizará, ou vamos entregar a segurança de nossas vidas a outrem?

Canoas montadas, a primeira frase que ouvimos do nosso líder/capitão foi: tal qual no remo, o que faz a diferença na canoa, é o conjunto. Remos entram e saem juntos d’água.

Subimos contra o vento em direção à Praia da Tapera, fazendo força, até chegarmos ao “canal”, antecipadamente avisado que estaria baixo, fazendo com que a canoa encostasse o fundo. Descem os remadores do centro, permanecendo o número um e o número quatro. Cuidado ao pisar no fundo com aquela textura de lodo de baía, com algumas conchas e vegetação de fundo de mar. Agora entendemos porque o pessoal da canoa usa aquelas botinhas de Neoprene.

Poderíamos dizer que a aventura da volta foi muito boa, tentando surfar nas “marolas” um pouco maiores, sempre sob o comando “Pressão, mais pressão”. Poderíamos afirmar também que a “minha” aventura foi constante, tentando acertar o “hip” e responder em conjunto de forma oral o “hoe”.

Quando um dos remadores designados dá o comando “hip”, segue mais uma remada no mesmo lado (ou bordo) e se troca o lado da remada, assim a mão que estava na parte debaixo do remo, sobe e a que estava em cima desce, e ao mesmo tempo a guarnição responde “hoe”. Digo, quase toda a guarnição, pois tal qual um aprendiz do volante que não liga o rádio do carro para não atrapalhar as curvas, eu me concentrava no “hoe” das minhas mãos.

Algumas escritas nas costas do número dois eu deixei com a pá do remo de madeira, construídos pelo mestre Batfino. Fica aqui meu pedido de desculpas ao Mazzon, agora entendo que o colete salva vidas é obrigatório, não somente para quedas na água, mas talvez também contra pancadas de iniciantes como eu.

Talvez a melhor parte da remada tenha sido na verdade, a pausa nas areias da praia, quando Histórias de Remadores se auto alimentaram de forma infinita, perpetuando o que há de melhor no Remo.

No vídeo a seguir, capturado pela Nice, alguns trechos, e o principal, a origem do apelido Batfino.

Quando será a próxima remada?


7 comentário

Vanice · 26 de dezembro de 2021 às 10:48

Muitas remadas e muitas histórias! Sempre uma experiência de conexão com a natureza e interação com os amigos.

    historiasderemador · 26 de dezembro de 2021 às 11:25

    Teus registros foram fundamentais para estas #historiasderemador. Muito obrigado!!!

    Sandra Berber · 26 de dezembro de 2021 às 11:58

    O Remo encanta a todos de várias formas! E nos agracia com várias histórias inesquecíveis.😃👏🏻👏🏻👏🏻

Toninho Naco Farias · 26 de dezembro de 2021 às 12:18

Neto e Batfino, grandes figuras do Remo e muitad historias de Remador!!!
Um grande abraço meus Amigos!!!

paulo Damiani · 26 de dezembro de 2021 às 12:26

Mais uma vez, excelente matéria..PARABÉNS.

historiasderemador · 28 de dezembro de 2021 às 20:46

Obrigado pelo prestígio

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