Fusca azul calcinha

Publicado por historiasderemador em

Créditos Renata Ferreira da Costa

Por Cesar Seara Neto

A temporada do Skiff está aberta, dura até fevereiro, pelo menos. Sempre que a condição da água permite, nosso coach, Prof. João, nos coloca a remar este barco tão elegante e autêntico. Já manifestei minha condição de fã deste profissional, um dos grandes nomes do Skiff brasileiro. A opinião de fã vale pelo aspecto emocional, mas pelo racional há de ser questionada, entretanto, se alguém tem muitos fãs, algum motivo há. O Remo é o esporte mais completo que existe, segundo João, remar skiff é outro esporte.

Além do aspecto psicológico devido ao longo tempo de solidão, a parte física do atleta é mais solicitada. Se fosse para eu escolher uma música para representar este barco, pediria licença a Roberval Taylor, um radialista criado por Chico Anysio, para pegar o refrão da versão que ele fez do sucesso dos anos setenta All by myself, quando dizia, tudo eu, tudo eu.

In vino veritas, ditado latino, no vinho a verdade, no Remo In schifo[1] veritas. Não é necessário ser um especialista, basta você olhar para aquele barco esguio e comprido e pensar: como isto não vira?

O mais difícil na bicicleta, é coloca-la em movimento, depois, é só pedalar que o equilíbrio se mantém. Faço a mesma analogia ao Skiff, basta começar a remar. Você já deve ter visto um equilibrista andando sobre uma corda segurando uma haste comprida. O objetivo desta é baixar o centro de gravidade. Eu associo os remos à esta haste, quando eles estão encostados um ao outro. O problema é na pegada da remada, quando a bunda encosta nos calcanhares e os braços se abrem. Neste momento é onde reside o perigo, quando o medo se revela, não o de virar e encontrar a água, mas sim da turma que fica na rampa torcendo, muito.

Depois do treino o alvoroço em torno da mesa do café é grande. Todos querem contar a sua história, sua aventura. Eu já narrei a minha, na crônica Quem com ferro fere. Uma passagem melhor do que a outra.

Em meados dos anos oitenta, minha irmã resolveu aprender a dirigir. A carteira de motorista foi conquistada com muita paciência e dedicação do instrutor. O dinheiro que ela tinha à época foi suficiente para comprar um fusca azul calcinha, placa AE2662, volante esportivo, minúsculo e pneus tala larga. Não era permitido ligar o rádio, sob o risco de não se conseguir vencer as curvas.

Um aprendiz maduro, profissional do mais alto gabarito da área da saúde, relatava com alegria sua migração do barco canoe, largo e de fundo chato, para o delgado Skiff.

– Era muita tensão e atenção, quando eu remava em frente ao Clube, sob os olhos atentos do professor. O único problema, era quando passava um avião, eu era obrigado a parar.


[1] A palavra “esquife” vem do francês antigo esquif, que por sua vez deriva do italiano antigo schifo, que é de origem germânica (schiff). Tradicionalmente, são embarcações costeiras ou fluviais usadas para lazer, como embarcações utilitárias e para pesca, e têm uma tripulação de poucas pessoas. (Wikipedia)

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2 comentário

Luiz Felipe da Silva · 13 de janeiro de 2024 às 14:05

Como sempre muito perfeito nas palavras! Parabéns meu amigo, obrigado por nos mostrar um remo em uma ótica e perspectiva diferente. Precisamos mais disso!

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