Domingo de carnaval
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O ano era 1981 ou 1982. Alguém teve a brilhante ideia de treinar um barco a oito no domingo de carnaval. A gritaria foi geral. Coisa de louco, depois da primeira noite, quando bailes em clubes ainda eram muito concorridos. Sim, mas o treino seria a tarde.
Para mim o que era interessante residia no fato de que eu remaria com a nata do Aldo Luz. Os professores Joel Cardoso e Liquinho no mesmo barco. Acredito que Conrado, irmão do meu amigo Hugo que estava na sotaproa, Maurício Boabaid e Zenilton na voga, estavam na guarnição. Não lembro quem era o timoneiro.
Em Florianópolis o vento que predomina é o Nordeste, assim a maioria dos treinos acontece na Baía Sul. Estamos sempre atentos quando o vento muda vindo da direção Sul, sempre forte e frio, traz ondas e chuvas. Remar nessas condições é impossível.
O oito saiu em direção a Costeira do Pirajubaé. Ainda não havia a via expressa que liga o centro ao aeroporto. Remar na praia do Saco dos Limões era muito bom, porque ficávamos abrigados do vento nordeste.
Os nossos líderes que estavam na ré do barco sinalizaram retornar antes do previsto. O tempo estava estranho. O calor do verão prometia mudanças. E como mudou. Quando dobramos a ponta da praia do José Mendes, eu olhei para a proa e vi um monstro na forma de nuvem vindo da direção Oeste/Noroeste, uma raridade, os temporais sempre vêm do Sul.
Eu na proa do barco, como sempre, sinto uma chicotada súbita nas costas, seguida de outra quase simultânea. Logo aquele fenômeno se torna uma rajada, não de metralhadora, mas de pingos de chuva, cada um do tamanho de um balde.
O sol ainda brilhava dando ao evento um ar de filme de terror. A água sendo despejada sobre nós que remávamos como cavalos cansados buscando o refúgio de nossas baias. O barco Irineu Bornhausen usado somente em competições acumulava água no fundo. A solução foi encostar numa rampa de concreto no clube Veleiros da Ilha, ao lado de uma tubulação que despejava o esgoto.
Salvar o barco era nossa prioridade. O fino casco de cedro não suportaria o peso da água e dos remadores. Pulamos na água turva. Retiramos os remos, e como se segurássemos nosso bebê no colo, escoramos nas pernas o casco inclinando em nossa direção deixando a água escorrer.
Os pingos d’água foram diminuindo. O vento noroeste cessou. Embarcamos de volta para o clube. No cavalete lavando a água salgada e enxugando o barco antes de guarda-lo, uma brisa mais forte e fria de vento sul começou a bater nas nossas roupas molhadas. Professor Joel recomendou banho e roupa seca.
Foi o domingo de carnaval mais divertido de todos.
Obs. A foto que ilustra o texto é de outro evento, outra guarnição. Odilon Maia Martins número 3 na foto, Mesquita atual presidente do Aldo Luz na proa. Irmãos Sônego no centro. Du Seara como timoneiro, o que indica que o ano desta foto é 1982.
6 comentário
Acácio · 2 de março de 2025 às 10:12
“Recorder é Viver” Seara.
Ricardo Borges · 2 de março de 2025 às 10:15
Cocôroeste
historiasderemador · 2 de março de 2025 às 10:41
sentimos que o vento era esse quando descemos nos Veleiros
historiasderemador · 2 de março de 2025 às 10:41
sempre
Rosane · 2 de março de 2025 às 10:14
Faltou citar que o Hugo estava no barco também 😜
historiasderemador · 2 de março de 2025 às 10:39
já acrescentado. Obrigado