Em busca da remada perfeita

Publicado por historiasderemador em

Por Cesar Seara Neto

A nove dias de completar cinquenta e sete anos saí para dar uma remada de dez quilômetros em quase uma hora, no single Skiff. Somente barco, água e meus pensamentos faziam parte do cenário, neste sábado de Remo, no primeiro dia do mês de outubro.

Meus pensamentos foram o protagonista da cena. Hoje foi a terceira remada consecutiva, após um mês longe d’água e dos treinamentos, devido a um mau funcionamento do joelho esquerdo. Agradeço ao Dr. Márcio Bolzoni, que pela segunda vez, me libera para remar e aproveitar os bons momentos da vida.

Dedico esta parte dos meus pensamentos, aos meus amigos que estudaram engenharia, e um dia se depararam com a disciplina Cálculo Um, talvez, a maior foice do curso de engenharia, grande responsável pelo êxodo estudantil.

Eu vim do ensino médio, confiante de que minhas habilidades algébricas e aritméticas, me dariam todo o suporte necessário para enfrentar o longo e intenso curso de engenharia. Elas me deram suporte, mas não foi o suficiente, ampliar meu horizonte filosófico de pensamento, foi, e ainda é peremptório.

Cálculo Um é onde aprendemos o cálculo diferencial e integral, segundo ouvi, desenvolvido por Isaac Newton, para poder comprovar suas famosas Leis da Física. Basicamente, o que ele nos provou, é que existem números tão próximos uns dos outros, que não conseguimos diferenciar a variação entre eles.

Acredito que diferenciar seja a origem do termo “diferencial”, mas se não for, é bem similar, e o meu chute passa perto.

Mas se estou a falar de Histórias de Remador, por que este devaneio?

A remada basicamente consiste em duas etapas, a preparação ou retorno e a puxada, que na realidade é o empurrão (das pernas e do barco para frente por consequência). Prefiro dizer puxada, pois as pessoas que não remam, enxergam mais este nosso movimento dos braços, que é responsável por cerca de menos do que 30% da remada.

Quando estamos puxando, nosso corpo e os cabos dos remos, estão se deslocando no mesmo sentido do movimento do barco. Ou seja, em direção a proa, quando estamos na recuperação ou retorno, nosso corpo e os punhos dos remos estão se dirigindo a ré do barco, até o momento que os remos caem na água, e a remada deve acontecer.

Aqui é que Newton começa a ser necessário para o entendimento deste meu devaneio. Segundo os entendidos, a boa remada acontece quando “tu pegas na ida, e não na volta”.

Complicou, eu sei, mas traduzindo significa que temos que mover nosso corpo em direção a ré do barco, e num passe de mágica, quando atingimos este limite, o remo já deve estar dentro d’água na puxada da remada, num intervalo de tempo próximo a zero.

Esqueci de dizer, mas no Cálculo Um aprendemos justamente o conceito de Limites, quando a variável “x” tende a um determinado valor. Neste caso da remada, a variável é o tempo, e o delta “t”, variação do tempo tende a zero. Ou seja, deve ser o menor possível ou imaginável.

Passados trinta e nove anos da disciplina MTM1131 da Universidade Federal de Santa Catarina, descobri enfim, o conceito de limites, é algo tão pequeno, que não conseguimos medir, sequer imaginar, tal qual deveria ocorrer no tempo que o remador leva para mudar o movimento de retorno para a remada propriamente dita.

Tudo isto ocorrendo dentro da minha cabeça, que passou uma semana de muitos confrontos mentais e materiais ponderando o que realmente vale a pena.

Vivemos um mundo moderno altamente polarizado, onde nada é certo ou errado, ou tudo é certo ou errado, dependendo de quem fala e de quem ouve. Esta polarização de certo e errado se transformou em amor e ódio, eu amo o que é certo e odeio o que é errado. Eu que sou ser humano, quando menos percebo, estou com este mesmo tipo de reação: odiando estar odiando.

E o melhor de tudo, é que estes pensamentos ocorriam durante a remada. Envolvido em meio a este tipo de sentimento, passei a pensar no que realmente vale a pena na vida, um mês sem treinar, sem entrar na água, sem ouvir o barulho do barco deslizando, vendo a musculatura diminuir, tal qual meu pai com seus oitenta anos completados em maio.

Passei a refletir se esta minha exacerbação pelo Remo é merecida, ou se é válida. O processo de comunicação consiste em tornar comum algo, quer seja conhecimento, um fato, uma história ou até mesmo um gosto, e no meu caso com o Remo, uma paixão.

Ser um fã incondicional deste esporte, me dá o direito de torcer como sempre venho fazendo, mas não me dá o direito de pensar que tenho razão, sempre. Nesta quinta-feira conversei com o experiente e hábil Alex Araújo, da Paddle News, numa LIVE muito interessante, e num determinado momento ele me fez refletir e pensar sobre o que eu publico, ou informo.

Eu não havia percebido, mas de alguma forma, o que venho tentando fazer tem surtido efeito, e muitas pessoas buscam no nosso portal, informações e muitas vezes, acabamos inspirando pessoas a seguir na prática do nosso esporte.

Se a minha torcida pelo Remo tem atraído mais pessoas, ótimo, se não ocorre, significa que não tenho conseguido levar adiante, o mote que meu pai me disse: “Temos que falar do Remo para os outros, e não para nós mesmos”.

Significa também que não posso odiar quem não consegue entender o que escrevo ou publico, uma vez que algo escrito depois de publicado, não mais pertence ao autor, mas senão ao público que o lê.

Aos que acompanharam a polêmica criada em torno de um post “Dois Sem Limites” que fiz no Instagram, referente ao último aqui no site na semana passada, perceberão que eu devo entender e respeitar este processo de comunicação, que não foi eficaz, talvez seja porque a origem das informações não tenha sido clara, ou ainda, o retorno recebido, não tenha sido entendido por mim.

Ainda que o retorno, de forma pontual, não tenha sido favorável e agradável de ser lido, devo respeitar estas opiniões. E respeitei. Os comentários que não me agradaram, permanecem e permanecerão na postagem.

Acredito que a torcida declarada e incondicional que faço ao nosso esporte, não deva ser atacada, pelo contrário, deve ser incentivada e que o meu entusiasmo em fazer esta divulgação, não se perca, devido a incompreensões geradas.

Fica aqui minha pergunta: devo continuar com esta minha torcida apaixonada pelo esporte, ou devo me ater às críticas não somente às postagens feitas por mim, mas também, às críticas feitas a atletas que por nós são homenageados.

Comenta o que você acha.

Categorias: Crônicas

9 comentário

Marcos Carvalho · 2 de outubro de 2022 às 11:42

Caro amigo Seara,
Você deve continuar a inspirar pessoas a se exercitarem, no remo ou em qualquer outra atividade física, pois é uma necessidade. Particularmente acho que não deves “pirar a cabeça” do povo com limites e derivadas, kkkk.

    historiasderemador · 2 de outubro de 2022 às 12:11

    Marcos quando a coisa sai da capacidade humana, temos a tendência de buscar algo no além. (Piada de engenheiro)

      Mario · 3 de outubro de 2022 às 12:30

      Continua. Lembre que temos um dois sem para remarmos juntos. Taca-lhe pau…

    Isadora · 8 de outubro de 2022 às 06:49

    👏👏

Paulo Damian · 2 de outubro de 2022 às 15:44

Grande analogia, mas tenho saudades de remar um skiff, mas não tenho saudades do cálculo 1!!😀

Renata · 3 de outubro de 2022 às 22:58

Derivando e integrando as variáveis e constantes só posso dizer que o limite da insensatez é achar que devemos apenas informar, sem torcer… é impossível sermos imparciais quando falamos do objeto do nosso amor: que no teu caso é o remo! Depois que eu presenciei uma matemática ficar toda derretida ao olhar a demonstração de um teorema, nada mais me surpreende, se um cientista fica arrepiado quando fala de ciência porque um apaixonado pelo esporte precisa ser frio e objetivo? Elogia, aplaude, torce, joga confete, porque criticar o outro é fácil, mas demonstra pobreza de espirito, no entanto ver o belo na proeza do outro engrandece a nossa alma, nos faz mais humanos e nos proporciona uma sensação de felicidade imensa!

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