Uma remada merecida

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Por Cesar Seara Neto

Padrões surgem por conveniência, necessidade ou simplesmente pelo hábito. Basta muitas vezes, apenas uma referência para orientar nosso pensamento e ações. A Ilha do GPA no meio do Canal do Furado é a nossa principal referência, tanto para o aquecimento como para nossa posição no rio. O professor João costuma determinar o aquecimento até a ponta de cima da Ilha. Quando os trabalhos intervalados são em voga baixa, o aquecimento se encerra assim que chegamos na Ilha.

Quando o treino é longo, apenas passamos ao lado da Ilha e nos lembramos do Júpiter, a guarnição mais antiga do mundo, que se encontra naquela prainha para o café aos domingos, às sete em ponto. Muitas histórias são revividas e contadas, registros são feitos e uma tradição de oitenta e seis anos se perpetua.

Mais uma vez tive a honra de ser escalado para ser o proa de uma guarnição feminina. Ana Vida na voga, as doutoras Pat e Suzi no centro do Four Skiff. Remar com as gurias é sempre gratificante e desafiador, a força bruta é convertida em elegância e movimentos suaves. A audição é aguçada, podemos perceber melhor os detalhes da remada, a sincronia do barco.

O treino era longo, mas ao chegarmos na altura da prainha da Ilha, nossa voga pediu: Alto! Paramos de remar todos ao mesmo tempo. Alguma regulagem nos finca pés talvez fosse necessária, mas não, Ana emendou uma sequência de palavras que me fez relembrar o verdadeiro sentido do Remo.

– Eu gostaria de fazer uma homenagem ao Seu Escovinha.

Com seus olhos azuis marejados e a emoção transbordando completou.

– Ele que nos deixou recentemente, era tão querido comigo. Sempre foi muito atencioso, inúmeras vezes me visitou na minha floricultura, me levava aquele bombom vermelho, Amor Carioca, tomava um cafezinho e seguia seu caminho.

Como reza a tradição, fizemos a nossa saudação de momentos importantes no Remo. Nós quatro quebramos o silencio do rio e brindamos:

Ao Escovinha, hip hurra, hip hurra, hip hurra!

Tenho certeza que onde ele estiver deu aquele sorriso infantil, puro e cativante, entre uma travessura e outra que já deve estar aprontando com os demais membros do Júpiter que já partiram.

Categorias: Crônicas

2 comentário

ANDRÉ LUIZ GONÇALVES FERREIRA · 31 de agosto de 2024 às 15:45

Doces, deliciosas, doidas e calejadas memórias. Tantas vezes aportamos na prainha, 1. Otávio Bandeira, 2. eu, 3. Zé Luis e o voga Antônio Augusto Bandeira. Tínha12, 13 anos de idade nas primeiras vezes (o Otávio ainda deve ter um troféu de mais jovem remador federado, creio que tinha 8 anos). E já seguíamos os mulas, no Júpiter. Lembro dois que foram geniais no meu tempo: dr. Mário Rigatto e dr. Nauro Bandeira, e eram jóvens naquele grupo. Fazem 52 anos e a história ainda vive. Obrigado César, o que estás fazendo pelo remo, pela memória do remo, é um verdadeiro tributo.

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