Bombordo e Boreste, amigos ou inimigos?

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Por Cesar Seara Neto

Antes de eu me permitir discorrer sobre mais uma aventura no Dois Sem Timoneiro com meu amigo Mário, que Mário? O Richter, vamos aproveitar o encontro com os Pedro’s e Rico que aconteceu nesta quinta-feira.

Muito bom poder conversar com quatro atletas que começaram a remar de forma despretensiosa, e hoje seguem suas rotinas de treinos de forma muito responsável e dedicada.

As duplas de Florianópolis e Brasília, estão distantes mais de mil quilômetros, mas se reuniram no último Campeonato Brasileiro e venceram a prova Four Skiff Júnior com muita propriedade.

Confesso que tento convencer o jovem e tímido Pedro Boron[1] a participar do nosso canal, desde o ano passado, quando venceu uma prova de Skiff na Lagoa Rodrigo de Freitas com muita valentia e determinação. Ainda restam dois anos a ele como atleta júnior, o que nos permite ter esperanças com seus resultados que ainda podem acontecer. Siga firme nos treinamentos!

Junte-se o outro Pedro de Floripa, o Schmitz, garoto educado, inteligente, respeitoso, qualidades necessárias a um verdadeiro campeão. Não basta ter vontade e habilidade para vencer, humildade e admiração pelos adversários também. Resgatei uma foto da 1ª Etapa do Brasileiro de Novos Talentos em abril deste ano, quando venceu o Skiff contra seu parceiro de Double Skiff do Vice-campeonato Sul-Americano Jr.

Porto Alegre – Abril/2022 – Créditos: Jossiano Leal

Terminada a prova, eles encostam seus barcos, e se abraçam. Dois campeões, João Victor Lopes do Flamengo, Sul Americano e Pedro, naquele momento, Brasileiro.

Nos bastidores, após nosso bate papo, ele confessou que torceu e vibrou muito, quando João foi campeão Sul-Americano, a alegria que sentiu foi imensa.

A dupla de Brasília Rico e Pedro, com seu sotaque de fala mansa, revela o lado calmo dos atletas, que também sabem o que querem e buscam, mas dentro d’água não são nada tranquilos, pelo contrário, valentes e guerreiros contaram de maneira divertida e apaixonada, a vitória em conjunto com a dupla catarinense.

Aproveito o gancho desta dupla que na verdade remam o Dois Sem Timoneiro, sagrando-se Campeões Brasileiro Jr neste ano em São Paulo, representando muito bem o potencial do remo Brasiliense, para escrever um pouco sobre a minha aventura de hoje, sábado.

Há tempos que nos papos de rampa, Mário e eu nos prometíamos remar um Dois Sem. Com o aval do “sôr” João, após o treino, num rio com uma brisa leve, colocamos o barco n’água. Mário na voga, remando bombordo, eu na proa, remando, óbvio, o boreste. Para quem não tem familiaridade com os barcos, neste, cada remador utiliza apenas um remo, em inglês, o barco é chamado de Par Sem Timoneiro.

Meu voga estava tenso, receoso em como seria nossa primeira aventura no barco. O que mantém o barco equilibrado, é o peso dos remos, que devem sempre estar em contato com a água, quando parado. Já na rampa, deixei-o entrar primeiro no barco e se sentar, cabendo a mim me sentar por último. Os joelhos são um ponto chave neste movimento, e como sabem, eles já têm 57 anos de idade.

Saímos remando, movimentando apenas braço e tronco. Percebendo a tensão acumulada, larguei a dica:

– Relaxa o ombro.

Pronto, soltamos o barco. Ele me confessou após o treino que não queria falhar comigo, pois eu já sabia remar este barco. Mal sabe ele, que todo dia é feito para aprendermos algo, e iniciada esta guarnição, comecei a aprender a remar com ele, a partir da primeira remada que demos juntos.

O tempo, a altura do remo ao longo de toda a remada, eu tenho que fazer da mesma maneira que ele. Aqui reside o que há de mais interessante neste barco, somos obrigados a aprender juntos, não existe experiente e inexperiente, não existe melhor nem pior.

O barco é o meu melhor amigo, ele me diz de forma sincera e impessoal, o que fazemos com ele, já escrevi isto antes. É natural entre remadores, que exista competição, até mesmo na própria guarnição, entre os remadores, as brincadeiras são manifestadas com a guerra entre bordos, onde ninguém quer apanhar, neste caso, significa que um bordo é mais forte do que o outro.

Uma curiosidade que descobrimos em comum, Mário e eu, nós dois somos fãs do saudoso Comandante Carlos Alberto de Carvalho Armando, que foi Comodoro do Veleiros do Sul, meu tio avô, Capitão de Mar e Guerra, natural da cidade do Rio Grande.

Lembro quando falei com ele logo após comecei a remar, quando disse que o Boreste era o lado esquerdo, e ele me disse que não, era o oposto, pois quem comanda um navio, deve olhar para a proa, conduzindo a nau para o rumo certo, sendo assim, o boreste é o lado direito, para nós remadores, continua sendo o esquerdo, mesmo que seja o direito.

Falei para o meu pai que a aventura do Dois Sem renderia uma crônica. ele me pediu para enfatizar, certamente: força, técnica, resistência, equilíbrio e habilidade. Neste sábado esquecemos da força e resistência, dando mais atenção aos demais requisitos.

Hoje, quando estávamos fazendo uma curva para retornar a garagem, pedi ao Mário, com o seu remo no lado de bombordo, para mantê-lo estável e assim equilibrar o barco. Esqueçam se estava no lado direito ou esquerdo. Quando puxamos a remada, o cabo ou punho do remo sobe de forma que sua pá permaneça coberta com água. No retorno da remada, temos que baixar o punho do remo, para que a pá se afaste da água e não arraste, freando o movimento do barco.

O aprendizado de hoje foi que bombordo e boreste, dependem mutuamente entre si, não sendo possível desassociar um do outro, ainda que se olhe da ré para a proa, ou da proa para ré, para que o barco siga avante, é necessário que o lado esquerdo E direito estejam alinhados, fazendo força de modo que o barco siga em frente, e não para os lados.

Se quiserem pintar o barco de verde ou amarelo, fica a critério do freguês, podendo também ser pintado de azul, ou de branco. Já vi barcos na cor negra, também na cor vermelha, todos, sem exceção, só andam reto, quando bombordo e boreste remam juntos.


[1] Assistam no vídeo esta hilária história sobre o seu codinome.

Categorias: Crônicas

5 comentário

Andre Baracuhy · 30 de outubro de 2022 às 08:25

Oi Neto !!!
Ótima crônica, dois sem é um barco para poucos, exige demais dos atletas, tanto da parte física quanto mental e sem dúvida, depois que encaixou a remada “ um abraço “ , é deixar rolar, gostei bastante também da entrevista com a garotada, a importância dos acampamentos, conversando a tempos atrás com o técnico Júlio Soares, ele sempre enfatizou a importância dos campings e o sonho de montar um no Rio Vermelho, na lagoa da Conceição em Floripa. Forte abraço do amigo André Baracuhy.

    Gibran · 30 de outubro de 2022 às 16:02

    Ótima crônica Neto. Realmente o 2 sem é, depois do Skiff, o barco mais técnico e difícil de remar. Pela.sincronia de forças e movimentos que precisam ser idênticos, do contrário não anda firme em linha reta. Esta analogia serve pra vida, pros negócios, para os relacionamentos, etc… Forte abraço. Viva o Remo do Brasil.

      Gibran · 30 de outubro de 2022 às 16:04

      Ps. Favor corrigir os erros de digitação, culpa minha que não percebi o “corretor” atuando rsrs.

Mario · 30 de outubro de 2022 às 08:58

Obrigado Seara.
Foi meu batismo no dois sem aos 62 anos
Vamos treinar e quem sabe fazemos uma prova num dois sem E próximo Sul-americano..
Abraço

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