Objetos de aprendizagem

Publicado por historiasderemador em

Por Cesar Seara Neto

Eu gosto de fazer associações dos assuntos dos textos que escrevo, com situações ou citações que não estejam ligadas ao esporte do Remo, meu principal tema.

Minha assistente de bastidores e palco, a Gica, está estudando objetos de aprendizagem, num mestrado na área de educação. Espero que ao final destas minhas divagações a respeito da Segunda Etapa do Campeonato Gaúcho de Remo 2023, ela faça um comentário público, aqui no site, a respeito do título desta crônica.

A previsão do tempo indicava para não se promover eventos ao ar livre em Porto Alegre, RS, mas a REMOSUL apostou nos créditos que tem com o que vem dos céus, e ganhou. Ganharam todos que participaram, prestigiaram e/ou trabalharam na Regata.

Como de costume o galpão do GPA já estava alvoroçado cedo na manhã, todos uniformizados, orgulhosos da estrela que carregam no peito, olhando para o Sul na expectativa de adivinhar se a chuva chegaria antes ou após o fim da competição.

– Não esqueçam do documento de identidade.

Barcos na água, alguns com assentos vazios e remos amarrados às ferragens, todos em direção a Ilha do Pavão, onde mais uma vez o União recebeu a todos com muito esmero.

Tudo normal como de costume numa Regata, a ansiedade em fazer as coisas conforme o planejado, para mais uma transmissão ao vivo no nosso canal do YouTube, sempre de forma amadora, com os recursos que dispomos.

Entretanto, o que era para ser algo corriqueiro, parecia não ser. Recebi o convite da REMOSUL para transmitir o evento, e este simples fato tornou tudo diferente. Parecia um desafio. Eu não estava mais falando no Canal ao pequeno público que me acompanha. Agora eu era o interlocutor de uma ideia, as Histórias de Remador que medalhas não são capazes de contar, e de uma Federação com mais de um século de existência, a mais antiga do Brasil. Para dar um tempero maior, Werner Höher, presidente da REMOSUL, me deu um microfone para narrar ao mesmo tempo para o público presente no local. Que responsabilidade! Impossível não lembrar das locuções de Henrique Licht.

Não mudou nada o estilo de transmissão, ou minha paixão pelo Remo, mas algo mudou. A Regata muito bem organizada, com direito a captura de imagens das duas últimas provas, Double Skiff Feminino e o Oito Masculino, ambos classe aberta, direto de um bote, pilotado pelo próprio presidente do Júri e da Federação.

Eu fiquei muito emocionado, como de costume, em inúmeras situações, numa delas, foi ouvi-lo narrando e comentando as provas, com maestria de um profissional comunicador do meio esportivo.

Seus conhecimentos como atleta e educador físico, aliados à sua cultura e inteligência para a arte da oratória, criou um marco divisor no Canal, já não há mais espaço para o meu amadorismo. Acredito que a crônica outrora publicada, O Lobo de Wall Street, aconteceu: a necessidade de se transmitir as Regatas é uma verdade real, e não mais virtual, e deve ser feita por quem sabe e entende do assunto. Vejam o exemplo a seguir.

Um remador, torcedor fanático do alviverde paulista, não me autorizou publicar o seu nome, por isto não o faço, apenas relato um vídeo que sua esposa enviou, da gravação das cenas que ele aparece remando. Orgulhosa do feito do marido, mostrou para a filha

– Olha o papai remando.

A resposta sincera da criança, merece sim, ser publicada.

– Não é o papai. Está muito magro.

Embora seja uma brincadeira, uma tentativa de divertir o leitor, o que pretendo através destes vídeos e textos, é que todos se apaixonem do mesmo modo que eu pelo esporte, ou pelo menos um pouco. Por último, mas sem conseguir concluir e abordar todos os acontecimentos e emoções, duas cenas me marcaram.

Vi uma tropa de meninos com a camiseta da ACARES correndo em direção a linha de chegada gritando. Estavam torcendo pelo Júnior, que agora rema no União, um clube com mais recursos, capaz de permitir ao jovem, que se dedique e treine cada vez mais, sonhando com competições cada vez maiores neste esporte tão lindo.

A outra cena numa prova de Double Skiff Feminino, vencida de forma brilhante pelas meninas do Centro Português de Pelotas, que realiza um belo trabalho e obtém grandes resultados, aconteceu a poucos metros da linha de chegada, um enorme aguapé flutuava no meio da raia.

Uma das duplas do União, tentou em vão cortá-lo ao meio, ficando encalhada, sendo obrigada a ver, sem nada poder fazer, suas colegas de clube, avançar remada a remada, e conquistar a segunda colocação da prova.

Uma das meninas urrava a cada tentativa frustrada, para desvencilhar o barco da armadilha natural que o rio nos proporciona, e mesmo com os pedidos de calma da lancha de resgate, fiquei imaginando que na cabeça daquela menina devia estar o seguinte pensamento: Será que vale a pena treinar tanto assim?

Posso afirmar com certeza que sim. Aquela cena me emocionou, talvez, mais do que se tivessem cruzado a linha de chegada em segundo lugar. Transmitam a ela, minha admiração pelo seu espírito guerreiro. Noutras regatas o êxito há de acontecer.

Fica aqui então a conclusão das minhas linhas, com uma pergunta a ser respondida por você leitor que chegou até aqui, este texto é um objeto de aprendizagem, capaz de emocioná-lo ao ponto de ter curiosidade para conhecer o Remo?

Categorias: Crônicas

10 comentário

Werner Günther Höher · 28 de maio de 2023 às 18:57

Parabéns!
Para quem não conhece o Remo vai saber que o nosso esporte é composto por uma grande família que ama o que faz e compartilhamos da mesma paixão.
💪🚣🏼‍♂️💨💨

anTONIO RICARDO LANFREDI · 28 de maio de 2023 às 19:06

Obrigado Seara. Não pude comparecer, mas captei o espírito da competição com a tua narrativa.

    Renato Lisbôa Müller · 28 de maio de 2023 às 20:59

    Além dos adversários, os barcos enfrentam adversidades: vento, correnteza, marola, onda, lancha, balsa, calor, frio, chuva, troncos, vegetação, neblina… Mas quem rema, tem um espírito guerreiro e aprende que, assim como este esporte, a vida não é feita apenas de situações fáceis e favoráveis.

vera bianchi · 28 de maio de 2023 às 19:12

parabéns Seara , sempre oportuno, emocionante sempre estas regatas repleta de vencedores, desde os que remam , os que narram , os que apoiam , os que torcem, e, todos aqueles que ajudam. é lindo!!!!

Berta · 28 de maio de 2023 às 20:00

Nunca tinha ouvido falar algo sobre remo e agora acompanho com curiosidade tuas postagens. Linda tua paixão pelo esporte

    historiasderemador · 28 de maio de 2023 às 22:04

    Próximo sábado, dia 02/06, temos um evento no Clube,seria uma boa oportunidade para conhecer mais de perto.

Gilberta · 28 de maio de 2023 às 22:06

Objetos de aprendizagem necessitam intencionalidade, ou seja, eles precisam ser pensados, planejados como objetos que darão apoio ao ensino. Não somente seu objetivo, conteúdo, modo, por quem ou como será apresentado precisam fazer parte desse planejamento, mas também o público para o qual se destinam.

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