Pegando a estrada e alface roxa

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Por Cesar Seara Neto

Desde que voltei a remar como master, os sábados tem sido dedicados ao Remo. O treino matinal, seguido pela feira para comprar queijo colonial do Seu Valcir, um aperitivo, almoço, a sesta, encerrando o dia com a publicação da crônica semanal.

A programação era transmitir ao vivo a terceira etapa do Catarinense, na minha terra natal Florianópolis. A previsão de muita chuva obrigou a transferência da regata para o primeiro sábado e domingo de agosto. Como a Gica já havia programado uma semana de férias, decidimos pegar a estrada e aproveitar o fim de semana na serra gaúcha. Não sei qual remorso é maior, pular o treino de sábado, ou acondicionar os quatro filhos felinos em caixas de plástico arejadas e deixa-los com a Bruna no conforto do Hotel GaTom. Sair de Porto Alegre se fez necessário, a cabeça e o corpo agradecem.

O sol do meio da manhã aqueceu o interior do carro. Casacos, boné e cachecol foram atirados ao banco traseiro, já não estamos mais acostumados a esta luz que clareia, seca e aquece nossos corpos. Uma parada em Canoas para uma água mineral e sacar dinheiro para o pedágio foi providencial.

O fluxo intenso e característico da federal BR 116, seguia normalmente até o momento que avistei ao longe um caminhão no lado esquerdo da pista, erguendo um homem num cesto para substituir uma lâmpada queimada, mas quando estamos de férias até mesmo trânsito lento é diversão.

Mais a frente um pequeno grupo de trabalhadores alegres, se divertiam espalhando com brochas tinta acrílica sobre a mureta divisória de concreto, cobrindo as profecias de Isaías. A alegria deles só era menor do que as filas que se formaram.

Obras para melhorar o escoamento do tráfego são uma constante no trecho da região metropolitana. As cheias revelaram falhas que agora são corrigidas. Pouco antes de chegar na entrada da Unisinos em São Leopoldo, perguntei a Gica qual a agência do seu banco. Uma de suas exclamações que veio lá de dentro dos seus pulmões, saiu de uma vez só, vibrando suas potentes cordas vocais, fazendo quase o meu coração parar de bater.

– Minha bolsa! É sério!

Entre uma frase e outra, o trânsito parado, virei o meu rosto. As férias começaram a ficar interessantes, primeiro desvio, retorno. Fazer todo o caminho de volta até o posto onde a famigerada de couro havia sido esquecida. Procurar o telefone do local foi em vão. Já premeditávamos a desgraça, boletim de ocorrência, ligar para as centrais de teleatendimento, conversas com máquinas, torcer e orar para ser atendido.

Descemos do carro como dois foguetes. A atendente simpática me olha. Uma bolsa marrom foi encontrada?

Com o sorriso largo tirando de baixo do balcão, a moça a entrega para a Gica.

Passada a minha tremedeira, entramos no carro e seguimos até o Restaurante Pouso Novo em Igrejinha, onde comemos como se fôssemos remadores olímpicos. Conchiglione de salame com molho de gorgonzola, frango com molho bechamel e para contrastar, salada de folhas verdes, com alface roxa que não pode faltar. As férias de três dias, enfim começaram.


4 comentário

Joaquim Ameba · 12 de julho de 2024 às 20:24

Deu para imaginar o sangue nozóio na volta ao posto para resgatar a bolsa, mas assim segue a vida, calma e mansa, com sobressaltos, do contrário, qual a graça?
Boas férias.
Me avisa (lembra) da regata em Florianópolis em tempo de eu preparar a câmera e lentes para te dar apoio com as fotos.

Carlos Bedê · 12 de julho de 2024 às 21:03

0 mais engraçado é sair da leitura do seu texto e cair numa propaganda de um produto e não entender nada do texto, até dar-se por conta de que lia errado. MAS que bom que ambos estão bem e aproveitando as férias. Se der saudades do remo, desça e suba as escadas da Floresta Nacional de Canela. Vai ser bem saudoso seu treino.

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