Balões ao vento

Publicado por historiasderemador em

Por Cesar Seara Neto

Remando contra ou a favor do vento, com ou sem lenço, seus documentos são as camisas rosa, assim meninas das mais variadas idades desembarcaram para a segunda edição do Festival em Brasília para subir nos Dragon Boats. Falando português, espanhol ou inglês, a língua comum era o sorriso e abraços calorosos, apertados, envolventes, emanando emoção.

Um forasteiro como eu, que conhecia apenas algumas representantes do Sul do Brasil em pessoa, e algumas outras de forma virtual, chega para conhecer o que é o Movimento iniciado pelo Dr. Don McKenzie há cerca de trinta anos no Canadá.

Aplaudida de pé, esbanjando saúde nos seus oitenta e sete anos, a doce Esther Matsubuchi, uma das três remanescentes da primeira equipe que participou de uma competição em Vancouver, demonstrou o verdadeiro espírito e propósito das Remadoras Rosa, exaltar o único e real valor que temos, a vida. Sobreviver ao câncer de mama, é uma dádiva divina, foi isso que aprendi aqui ao lado delas, a vida ainda é o que vale.

Eu defendo a causa rosa porque acredito nela, viajei mais de dois mil quilômetros de carro, desde Porto Alegre, com direito a paradas em Florianópolis, Blumenau e Ribeirão Preto. Eu faria tudo isso novamente, lógico que as histórias do Carlos Bedê da Remar Sul, e seus mais de quatrocentos personagens, não diminuíram a distância, mas tornaram a viagem mais divertida e agradável.

Essas mulheres que em Brasília estiveram, umas ajudando as outras, dividem histórias semelhantes, mas cada uma com suas particularidades. Já escrevi certa vez, que todo remador é um líder e cada vez mais, me convenço que essa máxima é uma verdade. A liderança aparece das mais variadas formas. Existem pessoas especiais. Existem aquelas que transcendem esse plano terreno que vivemos, e são essas que devemos tentar aprender algo, sempre que pudermos. Aqui eu me refiro a Cleusa Alonso. Eu tinha certeza que encontrá-la ao vivo, em carne e osso, seria carregado de emoção, mais difícil ainda, explicar o que tudo isso representa.

Ela sempre me falou sobre a cerimonia das flores, quando as remadoras as jogam n’água em homenagem às guerreiras que não sobreviveram a batalha. Aproveitando um hiato, enquanto os barcos se preparavam, uma remadora da Argentina pediu o microfone e nos brindou com uma canção que Mercedes Sosa costuma cantar. Como pode um ser humano não se derreter com tanta emoção.

O que me chamou a atenção foi o corredor formado em terra pelas equipes quando terminam as provas e ficam aguardando suas companheiras para serem saudadas, umas tocando as mãos das outras. Enquanto percorrem o percurso, o barulho que elas fazem, só é menor do que a alegria que elas sentem.

Nesse ano, a cerimonia aconteceu logo após a Regata em homenagem a Jane Frost, a primeira presidente do International Breast Cancer Prevention Comittee, que faleceu ano passado, companheira de barco da Esther. A condução ficou por conta da Larissa, a capitã da equipe Canomama de Brasília. Ela fez um discurso misturando uma oração com suas palavras e sentimentos próprios, tocando nossos corações, elevando nosso pensamento, purificando nossa alma. Desnecessário dizer que tudo isso só mexeu ainda mais comigo.

Para tornar esse evento mais bonito ainda, além das flores lançadas n’água, balões cor de rosa foram soltos, subindo ao céu, sendo levados pelo vento que por coincidência ou não, soprava nas nossas costas, afastando-os lentamente de nós, formando uma nuvem de pequenos pontos cor de rosa, que aos poucos sumiam da nossa visão. E assim encerro este texto, sem conseguir entender se esses balões podem ser comparados ao fluxo que nossas vidas seguem.

Categorias: Crônicas

1 comentário

Joaquim Ameba · 28 de outubro de 2024 às 11:52

Emocionante e visceral.

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