Um cavalo de uma meia só
Os treinos de sábado são sem sombra de dúvida, os melhores. Os compromissos profissionais permanecem hibernando até a fatídica segunda-feira, nos permitindo a mente livre para nos concentrarmos na remada, o fluir do barco, como diria Caetano, ou não. O espírito mais livre nos permite conversas recheadas de ilustrações, breves panoramas dos treinos realizados na semana, ou as árduas batalhas que nos esperam. Nesse sábado, que poderia ser qualquer um, de qualquer mês ou semana, tudo o que tínhamos para cumprir era só remar, para quem conseguiu. Explico.
Um dos remadores Master que andou ausente do Clube, retornou com força total, dedicado e compenetrado nos treinos, sempre falando alto e em bom som ou grunhindo em cima dos remoergômetros, foi designado ao Skiff simples, por ser experiente e letrado nesse barco.
Quem nunca passeou num cavalo de aluguel? E quando ele sente o cheiro da sua baia, não há rédeas que consigam controlar a ânsia para retornar ao seu lar. O remador protagonista dessa famigerada crônica, ganhou o apodo de Cavalo, pois sempre rema mais forte e rápido quando o treino se aproxima do fim.
Mas o que merece destaque, foi o que se sucedeu antes do treino. Eu não sei por que, mas sempre estou a observar certas coisas que só acontecem com certas pessoas.
Já pedi aos que leem essas linhas para ajudar o GPA a recuperar sua rampa, enquanto isso não ocorre, saímos com os barcos pela lateral. Um tapete de borracha espessa de EVA foi colocado sobre as ripas de madeira do flutuante, já gastas e cansadas de tanto tomar chuva e sol.
O que antes era só encostar ou sair com os barcos, agora ficou mais alto, o bordo apoiado na rampa também. Afastar o barco com as pernas, requer certa prática e habilidade nos barcos maiores, no Skiff, para nós velhinhos, o melhor é se sentar primeiro, segurar os dois remos com uma mão, e a outra empurrar o barco afastando. Jamais, jamais tirar a mão do remo e deixá-lo solto.
É impressionante como é possível num curto espaço de tempo, ver tanta coisa acontecendo. Uma mão afasta o barco, um remo aponta para o céu. Braços batem asas tentando voar, sentado em cima de um barco, é mais difícil. Um corpo é lançado a água. O barco se mantém com o casco n’água. Uma cabeça some. Uma cabeça reaparece. O barco vira de boca para baixo. Um remo some.
Findo o treino, retorno a rampa para buscar meus remos. Nosso amigo que tanto nos entretém com suas aventuras, retornava. Entendi ser melhor auxiliá-lo na rampa, segurando remos e barco a fim de evitar novos malabarismos e outra façanha. Segundo ele, o banho forçado proporcionou sua melhor remada, embora num dos pés tivesse remado sem uma meia.
4 comentário
Renata · 24 de novembro de 2024 às 10:58
Talvez a meia estivesse atrapalhando, e virar foi a maneira mais prática e rápida de se livrar dessa amarra desnecessária…foi embora a meia e o barco ficou mais leve!!
Sergio Luiz Fleck · 24 de novembro de 2024 às 11:17
Muito bom Seara. Captou o momento e transformou numa bela descrição. Parabéns. Apesar da indignação do colega Cavalo (apelido que até assusta), foi realmente divertido. E sempre um alerta em relação aos cuidados de embarque. Valeu tbm pelo aprendizado.
Francine Evaldt · 24 de novembro de 2024 às 12:44
Como é bom nos sentirmos vivos e adrenalinados depois de uma virada de barco! Kkkk
Leandro De Nardi · 24 de novembro de 2024 às 14:54
Esse é meu pai!(Filha do cavalo, Nina de Nardi)