Debaixo de sete chaves

Publicado por historiasderemador em

Por Cesar Seara Neto

Quando as coisas começam bem, hão de terminar bem. Resolvi escrever a crônica da semana, no meio do 1º Campeonato Brasileiro de Beach Sprint. Eu gosto de escrever textos que não tem final ou a conclusão fica por conta do leitor.

Cheguei a minha amada terra natal, Florianópolis, e fui direto a Jurerê onde havia iniciado a poucos minutos o Congresso Técnico. Tentei entrar incógnito, mas a quantidade de rostos conhecidos e com aquele brilho no olhar, abriram o meu sorriso de orelha a orelha.

Sentei ao lado do Cabeça. Entre um chimarrão e outro, um atleta preocupado com a equipe pequena do seu clube, e como fariam para manter os barcos alinhados na beira da praia com ondas e ventos, fez uma pergunta, digamos, genérica:

– Você segura para mim?

O que mais admiro numa pessoa é sua sinceridade e simplicidade, algo que sobra no Marcellus, o Cabeça. Ao ouvir a pergunta feita de forma muito séria, como um Congresso sugere, dirigida a ele, soltou uma exclamação típica das crianças que cursam a quinta série. O riso foi geral, inclusive na mesa da organização que conduziu o evento.

O ano de mil novecentos e sessenta e oito foi marcado por protestos juvenis espalhados pelo mundo. Para mim foi marcado pelo início da minha amizade com o Jali, meu vizinho de quadra, que estudava com minha irmã mais velha e serviu de ponte para nos aproximar. Uma amizade verdadeira não é necessária explicá-la, basta vive-la. Seu melhor amigo é aquele que aparece nas horas mais difíceis, mesmo sem ser chamado.

Há, porém, momentos que o combate é inevitável, e temos sim, que ir à luta, mesmo que as armas sejam remos para vencer ondas e vento. O Nordeste soprou de forma impiedosa no dia das tomadas de tempo. Há que se salientar, que a categoria que participei, era de pessoas mais novas do que eu, alguns anos, mas outros da mesma idade que a minha, deram show. Parênteses para o Liquinho com mais de setenta anos, deveria ser estudado pela NASA. Ao rever minha corrida no vídeo, jurei que havia cacos de vidro na areia, ou bolhas nas solas dos pés . Como faz falta os joelhos.

Acabei com o quinto tempo entre oito atletas. Hoje, sexta-feira, deveria ter ocorrido as quartas de final, mas tal qual o lobo mau, o nordestão soprou, e soprou, até tirar boias das suas posições seguidas vezes, obrigando os incansáveis árbitros, a trabalhar para deixá-las alinhadas. O adiantado da hora interrompeu a competição que promete continuar no sábado, desde que a chuva volumosa prevista não ocorra, e possamos remar com segurança. Ao fim do dia, a visita da Lu, amiga da oitava série, que saiu de Brasília e aqui em Floripa ficou, me encheu de alegria.

Lidar com as condições do tempo e suas variáveis, me fez lembrar da estrutura e organização do evento. Todos sabem que sempre estou aqui a falar bem do mais belo e completo de todos os esportes, agora com nova roupagem olímpica, o Remo costal ou de praia, conforme já citado noutro texto meu. Eu estou encantado com o que tenho presenciado. Encontrei pessoas que antes eram apenas virtuais para mim, e agora conheci pessoas de carne, osso e emoção, que me olharam diretamente no olho, apertaram a minha mão, antes mesmo de se tornarem seres virtuais.

Sim, no mundo moderno, ainda vale a pena ser humano. E um destes que gostaria de destacar é o Sargento Carriço da Marinha do Brasil, que liderou a equipe, composta por vários atletas com compromissos individuais, que só se tornaram possíveis de serem realizados se o coletivo funcionasse.

A determinação que cada um deles entregou em cima dos assentos que ocuparam nos barcos, mesmo com pouca experiencia no Remo clássico, muito menos no Costal, merece meu aplauso e enche meu coração de alegria e esperança, por ter numa entidade tão simpática e tradicional como a Marinha, um grande multiplicador do Remo, despido dos nossos tradicionalismos atrelados às cores dos nossos clubes, ou de ensinamentos ortodoxos, repassados de geração em geração dentro das garagens de remo.

É hora de aprender, quem sabe com os próprios aprendizes de marinheiros?

Categorias: Crônicas

5 comentário

Cesar Seara (pai) · 7 de dezembro de 2024 às 19:03

Um relato preciso e completo contando a história da competição.

    Ricardo · 7 de dezembro de 2024 às 19:11

    O bom filho à casa retorna!

RemarSul · 7 de dezembro de 2024 às 21:25

Deve ter sido, ou ainda está sendo, um bom evento.
Adorei quem te filmou e mais ainda saber. Que os joelhos são os membros das pernas. Vi a última competição de sábado entre os masteres masculino.
Não fomos por conta da chuva. Ficamos sentidos mas todo cuidado foi necessário. Mas vamos em frente.

Carriço · 9 de dezembro de 2024 às 10:29

Obrigado pelas palavras gentis! E obrigado tbm por receber a Marinha de braços abertos!

    historiasderemador · 10 de dezembro de 2024 às 10:32

    Remaremos muitas vezes ainda! Algumas no mesmo barco, outras em barcos diferentes, ou até mesmo, em terra, mas sempre juntos!

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