Saudades de um tempo que nunca existiu

Publicado por historiasderemador em

Por Carlos Ariosto Tinga da Silva

Eu estava caminhando à Beira Rio em Blumenau neste belo sábado, oito de outubro, sob um céu anil, observando a movimentação de pessoas debruçadas sobre os guarda-corpos, olhando para o Rio Itajaí-Açu, muito empolgadas, torcendo e vibrando.

Não consegui controlar minha curiosidade, fui verificar.

Descobri para minha alegria, que a IV Etapa do Campeonato Catarinense de Remo estava acontecendo.

Era a última do ano, diferente do passado[1], quando havia apenas uma Regata disputada num domingo, para a categoria Júnior e noutro domingo, para a Classe Aberta.

As regatas abriam com a prova do Quatro Com Timoneiro, seguida pelas provas do Double Skiff, Dois Sem Timoneiro, Single Skiff, Dois Com Timoneiro, Quatro Sem Timoneiro, Four Skiff e o Oito Gigante. Na categoria Júnior não havia o Four Skiff.

Eu fui um remador sem expressão, meu nome não figura entre os destaques do Remo Nacional, tampouco imagino o que é competir em nível internacional.

Porém, o curto espaço de tempo que me sentei e remei nos barcos durante a minha adolescência, foi suficiente para construir amizades que persistem até os dias atuais.

Eu remava por prazer, não sei ao certo o que me motivava, mas eu tive um professor, que foi fundamental na minha formação como atleta e pessoa. Mais importante do que vencer a prova, ou conquistar um lugar no pódio, era necessário remar melhor, cada vez mais em busca da Remada Perfeita.

Encerrei meu ciclo como remador, da mesma forma silenciosa que ingressei. Eu continuo anônimo, mas frequento as redes sociais, fazendo questão de não ser notado.

Pode parecer uma incoerência, mas tentem me procurar, e não me encontrarão, pois frequentei a mesma escola de anonimato, que um agente secreto de origem oriental, Joaquim Manoel, que todas as vezes quando indagado pelo motorista de táxi sobre o destino a ser percorrido, respondia:

– Nunca saberás!

O que me chamou atenção, foi um senhor muito empolgado, sob um guarda sol, fones aos ouvidos, falando para uma tela de telefone celular, transmitindo ao vivo as provas. Pensei até que sofresse de algum distúrbio mental, mas parece que ele sofre da mesma paixão que eu pelo Remo.

Este mesmo senhor, me explicou sobre este site e me garantiu que publicaria minha #historiasderemador, e para tal, bastava enviar o meu texto para o e-mail historiasderemador@gmail.com .

Ao ver toda sua empolgação e esforço, me comovi, pensei na dificuldade que se tinha no passado para acompanhar ao vivo uma regata, somente à beira d’água era possível.

Ali eu chorei de saudades de um tempo que nunca existiu. Ali eu chorei de saudades de uma medalha que nunca ganhei. Ali eu chorei de saudades dos amigos que nunca me deixaram.

Em tempo, eu fiz o curso técnico de Mecânica, na antiga Escola Técnica, no turno vespertino, para que eu pudesse treinar de manhã. A prática de um esporte olímpico, nos isentava da disciplina de Educação Física. Todos os meses o Clube enviava um ofício atestando nossa presença aos treinamentos, assinado e chancelado pelo Secretário do Clube, com letras maiúsculas. Bons tempos.


[1] No início da década de oitenta.

Categorias: Crônicas

14 comentário

Acácio Mund Carreirão · 10 de outubro de 2022 às 17:32

Crônica muito bem produzida, Seara! Fez com que eu me sentisse acompanhando a regata presencialmente. E, sem dúvida, as verdadeiras conquistas no esporte são as amizades que através dele construímos.

    Rosane J Goulart Silvestre · 10 de outubro de 2022 às 18:34

    Sempre acreditei que o Ariosto é seu pseudônimo, César!!! E ainda estou em dúvida!!!

Evandro Ávila · 10 de outubro de 2022 às 17:38

Searinha, Neto, vejo-me muito intensamente no que falou o Carlos.
Fui remador por pouco tempo, por quase 3 anos, mas nunca deixei de dizer até hoje que fui um remador. Foram quase 3 anos de muita alegria e muito prazer dentro do Aldo Luz remando com você, Neto, com o Fábio (meu primo), com o Roberto Mulbert, Dudu e outros remadores contemporâneos, que tenho percebido, remam até hoje.
Sempre que passo sobre as pontes da nossa Capital, vejo os galpões dos nossos clubes de remo e com certeza a saudade bate forte.
Abraço forte!

    historiasderemador · 10 de outubro de 2022 às 17:43

    Poxa meu amigo!!! Quanto tempo não tinha notícias tua! Muito bom lembrar destes bons tempos!

      Saulo Batista da Coata · 10 de outubro de 2022 às 21:34

      Grande Evandro!

    Saulo Batista da Coata · 10 de outubro de 2022 às 21:33

    Grande Evandro!

      Evandro Ávila · 13 de outubro de 2022 às 17:06

      Abraço, Saulo!

RAQUEL DENISE EWALD · 10 de outubro de 2022 às 18:51

Lindissima crônica! Sempre é tempo de voltar a remar, ou frequentar o clube pela amizade!

    historiasderemador · 10 de outubro de 2022 às 21:34

    Sempre é tempo de remar. O Carlos Ariosto me confidenciou uma outra #historiasderemador, por trás desta, mas me pediu para publicá-la somente no livro a ser lançado no ano de 2023.

    André Dutra · 11 de outubro de 2022 às 12:00

    Seara, os teus textos inspiram grandes histórias. Muitos anônimos falam pelas tuas palavras e esse passado que “nunca”existiu e só existe hoje na cabeça da pessoas faz com que seja aquele ingrediente pra falarmos de ontem com a cabeça de hoje. Forte Abraço!

Sandra Regina da Silva Cayres Berber · 10 de outubro de 2022 às 22:08

Foi um prazer assistir a Regata, e presenciar a amizade entre os integrantes dos Clubes de Remo. Rivalidade, só nas águas! Tivemos uma bela homenagem ao nosso atleta mais antigo em atividade, Odilon Maia Martins, de 93 anos, remador do Clube de Regatas Aldo Luz.

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