Sábado de Remo

Publicado por historiasderemador em

Quando voltei a remar ao final de dois mil e dezoito, no Clube de Regatas Guaíba Porto Alegre, tive uma grata oportunidade de compor uma guarnição mista de four Skiff Master, sendo o voga um remador muito experiente, eu remando logo atrás dele, e nas posições da proa do barco duas mulheres.

O aquecimento terminou na ilha do meio, os tiros começariam logo em seguida. A fim de nos tranquilizar, e manter organizada a guarnição que remava junto pela primeira vez, nosso voga pediu que iniciássemos os tiros com calma, pois a força vem ao natural.

Eu acreditava nos meus seis anos de treinamentos, e competições na minha adolescência, como se me dessem o diploma de expert, algo como um salvo conduto à categoria dos remadores que sabem remar. Na verdade, todos nós, pensamos que sabemos remar, mas todos os dias são uma oportunidade para aprender.

O dia amanheceu prometendo calor de verão gaúcho, no melhor estilo da capital que tem seu nome substituído para Forno Alegre neste período. O vento às seis horas da manhã estava fraco e prometia diminuir ainda mais com a força do sol. O famoso dia que as moscas voam em círculos.

Mas vento fraco é sinônimo de treino ou remada boa. Fui escalado para remar na posição cinco do barco a oito. A numeração decresce do voga, número oito, para o proa, número um.

Eu aprendi a remar em remos de madeira. As pás eram simétricas. Hoje em dia, barcos e remos são de fibra de carbono e as pás em forma de cutelo, assimétricas. Para melhorar a qualidade do agarre das mãos dos remadores que costumam ficar suadas, são colocadas umas borrachas antiderrapantes envolvendo os punhos dos remos. É uma maravilha, pelo menos para lixar nossas mãos.

No barco a oito, cada um rema com apenas um remo, no meu caso, eu remo boreste, ou seja, o remo fica a minha esquerda. A mão de dentro serve para girar o remo, permanecendo a pá deitada quando vamos pegar a remada, e girando antes da pegada para que ela caia na posição vertical dentro d’água. A puxada do remo é feita com a mão de fora.

Quando a mão de dentro gira o remo, a de fora permanece parada, o punho permanece reto, ou seja, não faz o movimento de giro. Os cabos de madeira são mais lisos, e o remo gira livremente dentro da tua mão, diferente destas borrachas maravilhosas e abrasivas utilizadas hoje em dia.

Percebi num dado momento que aquela sensação de dor nas mãos estava ultrapassando o normal. Lembrei de uma frase do saudoso Sady Cayres Berber: o bom remador não faz bolhas, faz calos.

Numa olhada rápida, vi minhas mãos descamando e pensando como faria para remar os quatro quilômetros finais. Decidi ouvir mais o barco e deixá-lo fluir. Eu era apenas mais um servo na guarnição, e ela a minha soberana.

Antes de iniciarmos o treino com os tiros, a voga do barco, única mulher da guarnição e a mais jovem do grupo, profetizou: a força vem ao natural.

Meu agradecimento ao GPA1888 e companheiros do barco, em especial ao timoneiro, que me proporcionaram um excelente sábado de remo.

Foto: Ricardo Rimoli

edição: Kelli Pedroso

Categorias: Crônicas

10 comentário

Renato Lisbôa Müller · 29 de janeiro de 2023 às 15:56

Depois de algum tempo e de algumas regatas, a gente se acha o EXPERT. A humildade vem com a experiência e com a idade. Mas, dizer que, nada se aprende com o tempo de remo é um erro. Sei que sabes remar e o fazes muito bem. Parabéns amigo, pela tua experiência, currículo e dedicação ao remo.

Acácio Mund Carreirão · 29 de janeiro de 2023 às 15:57

A vida é um um constante aprendizado, sem dúvida, Seara.

Quão bom é conseguir captar informações e adquirir conhecimento, independentemente de nossa idade ou experiência!

André Baracuhy · 29 de janeiro de 2023 às 15:58

Remar um barco a 8 é sempre muito bom, gosto muito de competir de número 7, 6 ou 5, apoiando o voga e ajudando a dar ritmo ao barco, tive boas conquistas nacionais inclusive em um brasileiro Júnior com teu irmão, Dú Seara, como timoneiro, além de um mundial de master numa prova master C em Duesburg , cidade que fica entre Düsseldorf e Colônia na Alemanha, numa raia linda, com muita torcida a favor dos alemães.

Carlos Eduardo Santiago Bedê · 29 de janeiro de 2023 às 20:34

Todos nós temos a memória dos detalhes quando praticamos algo que gostamos muito de fazer. É bem certo, que com o tempo também aprendemos que o tempo tudo muda. Mas a base, o conceito, a noção está lá. Não tem como pensar sem saber. Não tem como saber o gosto de algo, sem experimentar. Daí,.vem a vocação para fazer algo. E claro, aprendemos com os erros, que com o tempo também viram sabedoria. No resto, ao final, temos que nos dá o tempo de aceitar que tbm somos falhos.

Mario Richter · 30 de janeiro de 2023 às 07:52

Valeu Seara. Sempre bom remar contigo. Valeu a todos que estavam neste oito Sábado. Abraço

Rosângela de Oliveira Mello · 12 de fevereiro de 2023 às 16:07

Remar é um aprendizado constante.E isto é o que torna o remo tão desafiador e nos faz permanecer. Há dias em que os erros parecem “colar”no treino e é , de fato frustrante.Em outros, a remada flui como o rio.Seguimos em busca do nosso “Santo Graal”, e como na lenda arturiano, é uma busca de vida inteira.Abraços aos remadores, parceiros de busca.

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