Anônimos ou inomináveis?

Publicado por historiasderemador em

Créditos: Renata Ferreira da Costa

Por Cesar Seara Neto

A fonte de inspiração das minhas crônicas vem sempre das emoções percebidas das observações que procuro fazer dos acontecimentos. Nada acontece por acaso, procuro estar atento às nuances do cotidiano, a fim de aproveitá-las em algo útil.

Nossa carreta com os barcos do GPA, saiu com destino a Mendoza, Argentina, num domingo a noite. Durante o sábado, afixamos tubos à estrutura do caminhão, para servir de apoio aos nossos barcos.

No domingo de manhã um mutirão de voluntários carregou e afixou barcos, remos e abraçadeiras, tubos da barraca, sua lona e a pia do Adão.

Na segunda-feira ao final da tarde, após um exaustivo dia que iniciou com treino às seis da manhã, seguido por atividades profissionais, recebi uma mensagem com uma foto dos barcos em Uruguaiana do transportador.O áudio dizia que a configuração montada por nós, já não estava mais como havíamos previsto. A foto me chocou.

Barcos com fino casco de fibra de carbono, empilhados um em cima dos outros, afastados entre si por tubos transversais, estavam quase encostando. O risco de seguir viagem naquela situação era ENORME. Letras garrafais são necessárias neste momento para explicitar a minha forma exagerada de relatar os fatos.

O que eu faço? Como membro da diretoria pensei, tenho que dividir com os meus colegas. Mas aquela briga agora era minha. Modifiquei o termo briga de uma citação dum filme nacional que fez muito sucesso, para não ser um texto chulo.

Os colegas de direção teriam pouca ação na solução do problema. Encaminhei a mensagem ao nosso Head Coach, com décadas de experiência e inúmeras viagens nacionais e internacionais vividas.

– Parceiro, temos que ir para lá. Pede autorização ao nosso Presidente e vamos.

Sem que ele tivesse citado, eu sabia e tinha certeza de que mais um guerreiro estaria nesta empreitada.

Aqui começam os argumentos, e peço aos leitores que chegaram até aqui, a fim de me esclarecer, qual dos termos é o mais correto a ser utilizado: anônimo ou inominável.

Descobri nestas minhas pesquisas sem fundamento cientifico algum, apenas guiadas pela minha paixão por Histórias de Remador, que a grande maioria delas, é protagonizada pelos anônimos.

É difícil no mundo moderno, uma pessoa não ter nome, mas aqueles que não gostam de ter seus nomes veiculados e associados aos seus feitos, acabam sendo anônimos. Valorosas e imprescindíveis pessoas para que muitas coisas boas, aconteçam em prol da coletividade.

Esta postura para que permaneçam anônimos, para mim se confunde com o termo inominável, no sentido de que não posso, ou não tenho permissão de citar o seu nome.

Embora todos já saibam a quem eu me refiro, manifesto aqui o meu respeito e admiração pela sua postura, sempre pautada pela ética, dedicação ao que faz, empatia e educação com as pessoas.

Eu dirigi de Porto Alegre até Uruguaiana, chegando às cinco e meia da manhã. Algumas paradas necessárias no caminho para aquele café revigorante e algum lanche calórico, energia para as pálpebras permanecerem abertas.

O coach e o guerreiro, naquele momento, não estavam habilitados para conduzir veículos automotores, mas permaneceram juntos, durante todo o tempo, conversando sobre os mais diferentes assuntos, como filmes de Lars Von Trier, que foram e voltaram e hoje estão registrados apenas nas nossas memórias. A viagem embora exaustiva, foi muito divertida e prazerosa.

Baixamos todos os barcos antes das oito da manhã, fizemos os ajustes e substituições necessárias nos tubos transversais. Montamos a carreta novamente antes do fim da tarde. Liberada para viagem.

Mais um lanche na saída de Uruguaiana. Dirigi até Rosário. Comemos uma pizza do tamanho de uma roda de carreta. Fechei os olhos por uma hora e pouco. Acordei de sobressalto. Os guerreiros continuavam comigo.

Seguimos viagem até o Papagaio em Cachoeira. Novo café, nova cochilada. Chegamos em Porto Alegre, sãos e salvos antes do sol nascer.

Aqui o meu agradecimento público ao nosso coach e ao guerreiro anônimo e/ou inominável, pela sua total dedicação, durante cento e quinze mil e duzentos segundos, ou trinta e duas horas de jornada.

Categorias: Crônicas

16 comentário

Pai · 7 de abril de 2023 às 13:50

Uma odisseia inimaginável!!!

Pai · 7 de abril de 2023 às 13:52

Uma experiência inusitada !!!

Mario · 7 de abril de 2023 às 13:56

Por esses anônimos e ou inonimos, e graças a eles competimos com toda garra de gepeano. E por essa façanha, tivemos todos os barcos intactos para nossas sprovas. Muito obrigado aos anônimos. Hip ao zdecapentacampeão GPA.

    Cláudio karamello i · 7 de abril de 2023 às 15:08

    Dermos de agradecer aos anônimos e as os inonimos pó estarem sempre presente nas horas difícil,e parabéns a todos os grande guerreiro e campeões.

    historiasderemador · 7 de abril de 2023 às 15:20

    Grande parceiro!

Renato Lisbôa Müller · 7 de abril de 2023 às 14:46

O trabalho fora d’água, é fundamental. A logística de transporte, hospedagem, alimentação, envolve não somente aos atletas, mas também aos anônimos e inomináveis que fazem parte do dia a dia do esporte. Parabéns amigo Seara, continue remando, também, nas histórias de remador, que tanto nos ensinam.

Antônio LANFREDI · 7 de abril de 2023 às 15:03

Além de historiador, você tem uma veia literária. Belo texto. Eu não conhecia a dimensão do profissionalismo do GPA. Como amador e iniciante, me surpreendi vendo a pegada da nossa equipe, como essa que você relatou. É de arrepiar. E de se orgulhar. Obrigado Seara por compartilhar essas ricas histórias!!

Sérgio Fleck (Pai Vida) · 7 de abril de 2023 às 18:30

Seara e anônimos (nem tanto). Uma providência heróica que salvou a capacidade do clube de competir. Faltou agregar os termos iniciativa, coragem e enorme senso de responsabilidade. Cabe parabenizar e agradecer.

Lorena H de Lima Pimentel · 7 de abril de 2023 às 20:29

Bah Seara, muito bom o teu texto! Já pensou em escrever um livro e publicar na feira do livro? Já imagino o tamanho da fila para receber o teu autógrafo.

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