Aprendendo com os alunos

Publicado por historiasderemador em

Por Cesar Seara Neto

Eu pensei em discorrer a crônica desta semana, a partir de um comentário ao final de um treino:

– Vamos fazer uma vaquinha e comprar umas meias para o Seara?

Resolvi deixar os leitores curiosos a respeito do desenrolar deste assunto, que rende muita resenha. Fica a promessa aqui de linhas a serem escritas no futuro.

Mais um sábado de rio calmo e a faminta neblina a nos engolir, nos obrigando para um treino de remo longo na temida máquina às seis horas da manhã. Fui para o banho cedo, a fim de evitar a tentação de uma remada n’água, caso o tempo abrisse. Abriu.

Ouvi o chamado da Gabi no corredor dos vestiários, diretora de Remo do GPA.

– Seara, vem timonear para mim!

Quem sou eu para recusar um convite desta estirpe. Pedi que me aguardasse uns minutos para me paramentar com uma calça de lycra, motivo de inúmeros elogios carinhosos, casaco e tênis de treino. Realmente, uma cena dantesca.

Na rampa me aguardavam os alunos da Escolinha, para sua última das dozes aulas de iniciação ao Remo, trabalho voluntário desenvolvido por alguns abnegados com muito esmero e lógico, sucesso. Nosso barco era a terceira Gig a ir para água. Gabi no timão da Vênus com abraçadeiras para remos duplos. Na outra, Prof. Guilherme numa Gig com remos de ponta como a nossa.

Marcelo na proa, Tiago, Marina e o Prof. Gabriel na voga do nosso barco.

– Atenção, remos no final, todos remando somente braço. Sai.

A primeira remada como é de se esperar, é um encontro de ideias. Um remador tentando descobrir a altura do remo do outro, ou seja, o equilíbrio. Cai o bombordo, para corrigir, baixam os remos do boreste. Cai o boreste. Neste momento, o timoneiro, eu, assume o comando. Calma, sem fazer força, se preocupem apenas em colocar e tirar os remos juntos.

Remos começam a se encaixar, a sincronia começa a acontecer, mas a guarnição é a soma de quatro remadores e um timoneiro, que resulta numa coisa só, e esta coisa é o barco.

Alunos têm muitas variáveis para controlar, todas ao mesmo tempo, inclusive o balanço do rio, que não depende de nenhum dos integrantes do barco. O rio tem vida própria.

O barco balança, um remo prende, o barco todo fica preso, a velocidade do barco dificulta a liberação do remo. Lembro dos ensinamentos do nosso Head Coach, João, para organizar uma guarnição:

– Marca o final. Estabiliza. Depois sai o braço.

Notem que as frases são separadas por pontos, e não vírgulas, indicando que a pausa é um pouco maior. E assim percebi que era possível reunir os anseios dos cinco membros do barco.

– Marca o final. Equilibra. Saaai.

Começamos a nos entender. Já passávamos da ponte nova, um edifício móvel de mais de doze andares vinha se deslocando na nossa direção, para meu alívio, o navio cambou para boreste em direção ao terminal de gás.

Seguimos em direção a Ilha do GPA. Breve pausa, um pouco da história da guarnição do Júpiter e o famoso Café da Ilha. Retornamos em direção à garagem do Clube, sob os comandos:

– Marca o final. Sai.

Algumas pequenas dicas foram passadas sobre manter a pá do remo um pouco inclinada no retorno, evitando que a água a engula e aconteça a famosa enforcada. Outra dica, a preparação da pá para deixa-la na vertical antes que o remo caia n’água.

O barco já estava encaixado, eu devolvia o comando para eles, sempre lembrando para não olhar para os remos, mas como privar crianças adultas de olhar para o seu mais novo brinquedo, presente de natal?

Sem o comando, o barco ia perdendo sua identidade e unicidade, remos já não entravam e saíam juntos, mostrando a mim, que eu era útil e a guarnição precisava de mim. Aprendi com os alunos, que juntos somos mais fortes, e sempre é possível colaborar.

Terminamos o treino com minhas palmas aos alunos que voltaram remando muito bem, sem arrastar os remos, confirmando o lema do GPA: Remo para Todos!

Dedico esta breve crônica ao meu pai, que hoje, vinte e um de maio/2023, completa oitenta e um anos de idade, meu eterno professor.

Não esqueçam de comentar aqui no site o que acharam desta crônica, seguir nosso perfil no Instagram e lógico, nosso canal do YouTube.


16 comentário

Acácio · 21 de maio de 2023 às 14:59

Uma linda crônica, compatível com a beleza do caráter do teu pai, Seara.

ana maria goidanich fleck · 21 de maio de 2023 às 15:42

Bom dia vida!! Parabéns ao teu pai, Seara. Desejo saúde, paz e boas remadas.

SUZANA Pires · 21 de maio de 2023 às 17:17

Parabéns aovteu pai,bons ventos.

Marcelo De Luca · 21 de maio de 2023 às 17:18

Ótima crônica, Seara!
Foi um prazer fazer parte da guarnição tendo vc como timoneiro. Grato pelos ensinamentos. Parabéns ao teu pai!

Renato Lisbôa Müller · 21 de maio de 2023 às 17:35

Ensinar e aprender exige paciência, disciplina, persistência…. E isso aprendemos com nossos pais, que foram e são nossos professores e técnicos na escola da vida.

Sandra Regina da Silva Cayres Berber · 21 de maio de 2023 às 20:57

A equipe é importante para superar os desafios de cada atleta, e compartilhar as suas experiências, tornando o todo mais forte e capaz de trazer resultados melhores.
Parabéns ao Seara por mais um ano de vida!!👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
Que Deus o abençoe com saúde e felicidade, para continuar repassando suas experiências no esporte e na vida!

Alberto Karoly (Betão) · 22 de maio de 2023 às 10:30

Grande Seara! Me senti a bordo novamente. Saudades das boas remadas com a turma do GPA. Desígnios da vida me afastaram do rio e do remo, mas as boas lembranças e a vontade de voltar estão sempre presentes. voltaremos!!

Kelli Pedroso · 30 de maio de 2023 às 10:05

Bela crônica, Seara! Desejo saúde e prosperidade para teu pai. Os votos estão atrasados, porém são sinceros.

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