O craque e a sorte

Publicado por historiasderemador em

Por Cesar Seara Neto

Eu cresci vendo meu pai ouvir jogos do Flamengo pelo rádio. Lembro dele afirmando, este menino será um craque. Estou falando do Zico, o Galinho de Quintino, era início dos anos setenta. Este gosto pelos esportes, meu pai herdou do Vô Cesar, que trabalhou como cronista no Jornal dos Sports, nos anos quarenta e cinquenta, Rio de Janeiro, então Capital Federal e centro cultural do país.

O Zico nasceu com o dom de jogar bola, foi o maior artilheiro da história do Flamengo, mas ele treinava, muito. Todos iam embora, ele continuava batendo faltas por cima de uma barreira de bonecos. Certa vez ele foi indagado a respeito de um lance que acabou dando certo para ele, respondeu com um bordão que não esqueço:

– Não basta ser craque, tem que ter sorte.

A previsão do tempo no início desta semana indicava chuva para este sábado de manhã, quando ocorreu a Segunda Etapa do Circuito de Velocidade organizado pela REMOSUL.

Em 1984, meu pai a frente da Federação de Remo de Santa Catarina, organizou a Primeira Regata Internacional Topper, optando pela Raia da Beira Mar Norte, já muito frequentada àquela época, dando mais visibilidade ainda ao esporte. Nesta regata eu remei o Oito, contra os panamericanos Irmãos Carvalho na voga do barco do Flamengo. Eles voaram.

O pai não contava com a tecnologia para a previsão do tempo, em especial a direção e intensidade do vento. O que ele dispunha era telefonar as quatro da manhã para a base aérea. Quem é de Floripa, sabe que o nordestão inviabiliza qualquer regata de Remo naquela raia.

Quando o árbitro levantou a bandeira branca indicando que a prova do Oito Gigante havia transcorrido dentro do normal, encerrando assim a Primeira Regata Topper, o vento nordeste começou a soprar.

Durante o tempo que eu remei (80 a 86), vi meu pai se esfalfando, organizando e liderando as equipes de pessoas que trabalhavam de forma voluntária nas regatas.

Hoje fui interpelado por um menino, pai de dois filhos, marido dedicado que assumiu a presidência da REMOSUL, me questionando a respeito do diluvio segundo a previsão do tempo para Porto Alegre. Fui obrigado a elogia-lo e compará-lo ao Zico, dizendo que ele não bastava ser craque organizando as regatas, mas que também tinha que ter sorte.

Agora que escrevo este texto, faço associações de Regatas já vividas, impossível não me emocionar ao enxergar as semelhanças nos papéis de líder destes dois que exalto aqui nestas minhas singelas e sinceras linhas.

Confesso que tenho andado atribulado com meus afazeres profissionais, deixando as Histórias de Remador para um segundo plano, mas quando vejo o empenho deste menino que é um verdadeiro apaixonado pelo esporte, com todo seu carisma e dedicação, que nos contagia com sua simpatia, humildade, me renovo e me inspiro a continuar da minha forma amadora, a divulgar o esporte, não apenas para nós mesmos, mas para os outros que ainda não conhecem a magia do Remo.

Dedico esta crônica a todos que de alguma forma contribuem para o nosso esporte, atletas, técnicos, árbitros e equipes de apoio dentro d’água, trabalhadores e dirigentes nos clubes, amigos e familiares na torcida.

Hip Hurra!

Categorias: Crônicas

16 comentário

Roque Ricardo Zimmermann · 2 de setembro de 2023 às 22:48

Muito legal em ler e ouvir suas histórias de seu canal digital.
Que você continue tendo “sorte” neste grande talento que você tem.
Grande abraço

    historiasderemador · 3 de setembro de 2023 às 16:18

    Escrever qualquer um escreve, mas conduzir a equipe de remadores como vocês fazem, é para poucos

Mario Dias · 2 de setembro de 2023 às 22:49

Na mosca, Seara! O Werner é nossa versão de Zico… um craque abnegado e provou ter tanta sorte quanto talento. Hip Hurra!

Mario Richter · 3 de setembro de 2023 às 07:42

Parabéns Seara! E Parabéns ao Werner que tem conhecimento garra e sorte! Eu que sou velejador diferentemente do remo vamos para água com quase qualquer tempo e vamos longe onde as rajadas de vento no pegam desprevenidos. Mas aprendemos com nossos pais a saber respeitar o tempo mas as vezes precisamos da sorte além do conhecimento e treino para voltarmos para nosso clubes sem sofrermos danos. A sorte é irmã do saber. Vem junto com nosso aprendizado.

    historiasderemador · 3 de setembro de 2023 às 16:19

    Estamos juntos parceiro

    Ronaldo Esteves de Carvalho · 10 de setembro de 2023 às 19:18

    Grande Seara !!! Nunca esqueci dessa regata “Topper “Fomos no 8 e Me diverti muito com todo o contexto. Nunca tinha competido lá. Lembro da Regata perfeitamente e de umas “ barracas “ que comemos muito Camarão. Deliciosos. Obrigado pela lembrança. Seu Pai foi chefe de delegação em Camp. Mundias.nos quais participei. Gostava e Me dava muito bem com Ele. 👍👏👏👏👏. Grande Anraço

Werner Günther Höher · 3 de setembro de 2023 às 08:09

Obrigado pela comparação e por estar junto nesta luta pelo nosso esporte!
Juntos somos mais fortes, seguimos para os próximos desafios.
Um forte abraço e ótimas remadas nesta semana que se inicia.

Carlos Bedê · 3 de setembro de 2023 às 09:41

A história de vida e também a história das coisas que vivemos, com o remo ou qualquer outra atividade não seria diferente. Não vivemos isolados. Vivemos no contexto de nossa história, na história daquele momento. Mas o que chama atenção, é que me dá gosto de ler, e este contexto, associações temporais diversas.
Um grande abraço

Vivian · 11 de setembro de 2023 às 05:57

Só tenho a agradecer a esses amantes de um esporte que me trouxe uma nova vida, em que as pessoas, agora minhas amizades, são do maior valor.
Sem dúvida a equipe da direção da Remo sul mora no meu coração, por serem pessoas competentes e dedicadas e, felizmente pra mim e todos os remadores e remadoras, o Werner nos representa nessa direção. Parabéns Werner e toda a equipe!
E que a sorte esteja conosco!

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