Charles Ariosto remando com Darwin
Hoje, sexta-feira, parti de manhã com destino a Floripa. Objetivo, Regata no domingo, quando transmitirei a última etapa do Campeonato Catarinense de Remo 2023. Neste evento, a Federação homenageará meu pai, pelos trabalhos prestados à entidade.
Não sei ao certo se meu pai estudou filosofia no colégio, mas acredito que sim. Eu aprendi na prática a dialética socrática com ele. Suas perguntas em tom baixo de voz, com questionamentos muitas vezes sobre temas ou situações delicadas, eram formulados de tal maneira, que não tínhamos como fugir do bem mais precioso que a Ciência das ciências busca, a Verdade. O vê maiúsculo é para polemizar sobre a Verdade Absoluta.
Estes meus devaneios na tentativa de entender o que se passa na cabeça das pessoas, muito se deve à capacidade observadora do meu pai e a de sintetizar em frases quase prontas, os motivos que movem as pessoas a se comportar como as vemos.
Lucas Verthein é ouro no Pan, Bia é prata, as demais guarnições lutaram muito, mas ainda, vejam bem, ainda, não foi desta vez que obtiveram êxito ao ponto de subir ao pódio.
O tema do copo meio vazio ou meio cheio, continua me assombrando. Não sei se bebo a metade dele cheio para saciar a minha sede de copo inteiro, ou se fico chorando a metade que me falta.
As observações de Charles Darwin, o levaram a concluir que as espécies que sobrevivem, não são as mais fortes, mas sim, as que conseguem se adaptar.
Seria curioso no mínimo, perguntar qual motivo levou o detentor dos direitos de transmissão dos Jogos Pan-americanos, inclusive as provas de Remo, fazer a narração em inglês, sendo que nas Américas, a grande maioria dos países, utiliza a língua espanhola para se comunicar.
O país com mais vitórias, Estados Unidos, é de língua inglesa, e costuma figurar nas finais e pódios da maioria das grandes competições internacionais. Apenas uma observação.
Remos, barcos e seus acessórios, evoluíram. E muito. São mais leves e resistentes. Aos saudosistas de plantão que sofreram em cima de um Dois Com Timoneiro, isto soa quase como uma ofensa.
Além da parte náutica, a tecnologia para medir a velocidade dos barcos, ritmo, voga, a curva da força aplicada, desde que o Remo entra n’água versus o tempo decorrido, frequência cardíaca, são mais alguns elementos que permitiram o avanço do esporte.
A utilização da biomecânica para entender melhor os movimentos e suas variações, fisiologia do esporte, exames clínicos, medição do consumo de oxigênio, permitiram ampliar os limites dos atletas, reduzindo os tempos que as guarnições percorrem os dois quilômetros de uma raia. Entretanto, não sei se é devido à miopia ótica ou cerebral, muitos, inúmeros apaixonados pelo esporte, ainda se atém às suas convicções, me permitindo extrapolar para o campo de uma travessia atlântica, não mais numa calota esférica, mas numa superfície plana, tal qual uma gilete deitada. Aqui não me refiro a espessura da gilete, dimensão comparada por nós na nossa adolescência, ao tamanho do discernimento das pessoas.
Fico pensando se nós remadores, seremos tartarugas gigantes e longevas das Ilhas de Galápagos, que encurtaram os pescoços e ovalizaram suas carapaças para se proteger de seus predadores, ou se teremos a humildade de perceber que estamos num processo odioso de autofagia, nos encaminhando a nossa própria extinção.
3 comentário
Seara Pai · 27 de outubro de 2023 às 17:57
Falar do escorreito texto tanto na parte técnica, como histórica, no caso de Darwin e no que me toca, extremamente perigoso sob pena de macular um documento bem escrito. Com os cumprimentos de um pai orgulhoso e admirador de um esporte que consolida força, técnica, resistência, equilíbrio e habilidade como receita básica para uma boa performance.
Carlos Bedê · 27 de outubro de 2023 às 18:14
Sinceramente, respondendo como se seu texto fosse uma conversa, não sei para qual lado queres ir. Se ao remo, se as vitórias, mesmo as sem medalhas, ou se ao fato de que a relatividade espacial nos diz aonde ir. Sei que somente existem vários Vês.
Na vida, o importante é saber o rumo, e dele qual direção tomar. Qual sentido para ir. Te esperamos no Domingo. Venha com fé
historiasderemador · 28 de outubro de 2023 às 00:07
Gosto de parafrasear Chacrinha. Eu vim para confundir, não para explicar