Por Cesar Seara Neto

O barulho de pneus chiando na bifurcação que as Avenidas Mauro Ramos e Hercílio Luz fazem, indicava que a chuva iniciada no Sábado, ainda não havia cessado às cinco horas da manhã no Domingo. Florianópolis é assim, abençoada em beleza, mas também em água do mar que a circunda e da chuva que se precipita.

O que faz alguém acordado tão cedo no dia mundial do descanso? Eu estava torcendo para que a chuva, não ofuscasse o brilho que a última etapa do Campeonato Catarinense de Remo 2023 mereceu. São Pedro é generoso. Um esporte desta magnitude tem este poder, esta súplica.

Quando cheguei oito horas e alguns minutos, o alvoroço era grande. Barcos na água, uniformes, ajustes, últimas instruções. Liguei o notebook com as mãos trêmulas, conectei a câmera. Entrei ao vivo com a primeira prova do programa em curso, o Oito Feminino Sênior. Martinelli, Riachuelo e América disputaram de forma brilhante. Ali eu percebi através da primeira vitória do clube de cor azul, que o evento prometia muita emoção. Provas decididas nos últimos metros, muita torcida, muita gente gritando.

Quando estou transmitindo uma regata, minha preocupação é enquadrar na minúscula tela da câmera, os barcos que compõem a cena, permitindo a quem assiste, torcer e se emocionar de acordo com o que este esporte vibrante sugere.

A narração ficou por conta do carismático Prof. Toninho Naco Farias, mais um amigo que as Histórias de Remador me permitiram.

Para quem transmite ao vivo pelo YouTube, mais um item a ser observado, as músicas tem direitos autorais, e na inobservância disto, a plataforma coloca restrições ao vídeo. Nada melhor do que balançar o esqueleto num encontro público, mas contra a minha vontade, foi necessário silenciar o áudio da transmissão, ou colocar alguma música de fundo, livre para ser veiculada.

Recebi durante a transmissão, o pedido para que as informações dos participantes chegassem antes do inicio das provas. Fica desde já, minha solicitação aos Clubes para que nos próximos eventos, me enviem fotos dos participantes e dados, de preferência sentados no barco, para publicarmos antes dos combates. Lembrando que menores de idade precisam da autorização dos pais.

O que me fez dirigir mil quilômetros entre ida e volta, foi a merecida homenagem que meu pai recebeu pelos serviços prestados frente a Federação de Remo de Santa Catarina. Junto comigo estava meu irmão. O pai me pediu para agradecer em nome dele. Coisa simples e fácil para uma manteiga derretida como eu.

Quando segurei o microfone, a razão tomou conta de mim e dominou a situação. Fitei muitos rostos conhecidos, e ao mesmo tempo, uma infinidade de pessoas desconhecidas, pelo menos para mim. Um lampejo me iluminou, mais uma vez tentei pensar de acordo com os ensinamentos do pai que ele me passou, e ainda me passa.

Ele sempre me diz que o remo é contraditório, estamos sempre de costas para o nosso objetivo. Talvez resida aqui, para nós remadores, de cabelos brancos ou não, nossa dificuldade para olhar além do futuro, uma vez que nossa referência no barco é a parte traseira, a ré, sempre de frente para o passado.

A Regata foi um grande evento, Sociedade Musical Filarmônica Comercial, lanchonete e vagão de bebida móveis, presença maciça da comitiva do Prefeito Municipal, Topázio Neto, que anunciou a abertura do processo de licitação para as obras de Revitalização do Parque Náutico, segundo ele, consultado por quem mais o conhece, os Clubes de Remo.

É isto que me move a escrever estas linhas. Saber que meu pai nos ensinou e nos ensina que precisamos falar do Remo para fora de nossa comunidade, e não para nós mesmos. Tomando como base Florianópolis, somos apenas três pontos mínimos numa ilha com mais de cinquenta quilômetros de extensão e área de mais de quatrocentos quilômetros quadrados, repletos de pessoas que jamais viram ou até mesmo ouviram falar do mais completo e belo esporte de todos, o Remo.