Por Cesar Seara Neto

As enchentes que antecederam o Campeonato Brasileiro Interclubes de Jovens Talentos do Remo 2023, poderiam parecer um alerta. O Guaíba transbordou. Meus olhos também. Pais a distância preocupados com os filhos, organizadores mais ainda. Sábia decisão tiveram ao carregar a competição para dentro de casa. E que casa.

Grêmio Náutico União não mediu esforços, disponibilizando todos os seus recursos possíveis, leia-se instalações, equipamentos, mão de obra, e carinho, muito carinho. Quem meus filhos beijam, a minha boca adoça. Acredito que era algo assim que a Vó Rosa costumava dizer. Todos os jovens eram nossos filhos, muitos, ainda crianças.

Transmitir imagens e som ao vivo, já não é mais novidade para mim, assim como já é nítido e notório que o faço de forma ultra amadora, como diz a Ana Helena, a Puccetti, amador de quem ama. Desta vez a proximidade física dos atletas, me auxiliou, porém, a dupla Eduardo Cata e Jossiano, em conjunto com a equipe técnica da REMOSUL, me entregaram em tempo real o link das provas, reproduzido de forma simultânea no telão para o público local, e no canal do YouTube para todo o Brasil e o mundo.

Muitos agradecimentos dos espectadores pela cobertura, realizada apenas com meu notebook e Webcam. Lógico que o sinal de internet conectado com cabo que me deram foi fundamental, mas brinquei de diretor da cena, com uma visão privilegiada nas alturas, que o andaime montado especialmente para mim, encoberto com tecido branco, pode me proporcionar.

Minha mãe me diz que eu tento fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Ela tem razão, afinal, mãe sempre tem. Eu tento. A cabeça e o corpo conseguem fazer o que está ao seu alcance. Parece simples transmitir e narrar, mas no fundo, eu sou um torcedor. Desta vez cheguei a ter NOVE nomes sob a minha torcida. Ainda que eu fosse um polvo, faltaria tentáculo para mantê-los em contato.

Ao mesmo tempo, eu tenho um pacto velado com quem assiste às provas, para entregar entretenimento da melhor forma possível. O compromisso em forma de agradecimento, ao privilégio de estar nas alturas presenciando todas as disputas que estes jovens travaram, a maioria das vezes, enfrentando de forma valente seus próprios medos diante das temidas máquinas remoergômetro, quase me obrigando a entregar também aquele algo a mais.

Eu estava ao lado do Werner, presidente da REMOSUL, quando narrou com sua paixão e brilhantismo, a prova do Four Skiff Feminino Juvenil, onde uma atleta de apenas onze anos participou, nos brindando com uma das mais calorosas batalhas sob a piscina do União, que segundo Werner, tremeu com tanta emoção ao ponto de fazer marola. A diferença de apenas décimos de segundos levou o público ao êxtase, enchendo meus olhos, da mesma forma agora, quando passo a pena por cima do papel branco.

O que me deixa feliz, é saber que hoje ainda é sábado, primeiro dia das Finais, amanhã, domingo, tem mais. Resta saber se o velhinho aqui aguenta!

Dedico esta crônica a todos que permitem acesso a esta juventude, praticar o esporte mais completo e belo, em especial ao meu irmão Du Seara, o Searinha, que voltou a ser professor de Escolinha de Remo e completa mais um ano de vida hoje.