De carne, osso e emoção

Publicado por historiasderemador em

Por Cesar Seara Neto

Braços e pernas amanheceram cansados neste domingo. A lombar acusava o esforço para acompanhar a voga imposta pela juventude a minha frente. Cinco barcos a oito alinhados para descer quase cinco quilômetros. Guarnições compostas pelo Prof. João, miscigenadas em categorias de idade, peso e gênero para mais uma edição da famosa e aguardada Regata Kaiser.

Alguém deveria vencer o certame. O GPA venceu. O Remo venceu. Groucho Marx dizia que jamais entraria para um clube que o aceitasse como sócio. Há cinco anos eu me associei ao Guaíba Porto Alegre, o Clube de Remo a mais tempo em atividade no Brasil, o mais antigo, completou 135 anos no dia 21/11/2023. Desde então, tenho vivido muitas emoções.

Enquanto a galera enfrentava o vento Leste que crescia com suas ondas no Delta do Jacuí, a volta dos Cachorros estava terrível de remar, em terra, os decanos do Júpiter teciam uma infinita rede de assuntos, os mais variados possíveis, relembrando seus feitos e seus componentes, “os mulas”. Uma das atividades deste sábado festivo, foi justamente o batismo de barcos, dentre eles, Bonelli, atual membro da guarnição que vem se renovando desde 1936 e Germano Schulz, ex-integrante, que nos deixou recentemente.

As palavras mais simples e diretas são as que tocam nosso coração com mais fervor. Quem vê o Bonelli com toda a sua força, por trás da sua barba branca, da sua imponente voz, espera um discurso inflamado, longo e planejado, mas ele nos surpreende com a sua sinceridade resumindo tudo a dois pontos:

Eu sempre fui Gepeano, fiz tudo que pude pelo GPA, o que só me resta agradecer o Clube, por tudo que conquistei e pelo que sou. Lealdade e gratidão.

Outro batismo muito importante foi o barco do Mosquitão, vulgo Antônio Ricardo Medeiros, que nos deixou muito cedo, remador e líder dos mais fervorosos do Clube, em momentos importantes da sua história, representado pela sua família, expressa pelo sorriso de alegria, que sua esposa demonstrava ao descerrar o pano em sua merecida homenagem.

Dois barcos Single Skiff foram doados ao GPA, um pelo atual presidente do Clube, Gilson Castro, o FelGil, e o Lady Laura, doado pelo Márcio Jesus.

O barco Double/Dois Sem que recebe o nome de Racice, cidade na República Tcheca, em homenagem a dupla Luana e Isadora onde representou o Brasil no Campeonato Mundial em 2022, levando o nome do GPA mais uma vez para os quatro cantos, também foi citado, mas acredito que outra cerimônia poderá ser realizada, ante a dimensão deste fato.

Deixei por último o Skiff doado pelo Alexandre B Correa, o ABC, pois me emocionou muito, com direito a corredeira olhos abaixo, desde o momento que o Prof. Schulz foi chamado ao microfone.

Um grande representante dos esportes, educador físico, uma das pessoas mais polidas que conheço. Jamais age com desrespeito a qualquer pessoa. Por todas as suas qualidades em especial a sua paixão e dedicação ao Remo, fica difícil saber se estas são maiores do que seus profundos conhecimentos da história, regras, particularidades, fisiologia ou técnica, graças aos seus estudos adquiridos em cursos, ou aqueles transmitidos diretamente pelo seu pai, ou ainda, como autodidata pesquisador.

A partir do momento que passou a homenagear seu tio, aquele homenzarrão voltou a sua infância e de forma simples e despretensiosa, agradeceu do fundo do seu puro coração, tal qual um menino que ganha seu primeiro presente de Natal, toda a influência que o Seu Germano teve para trazê-lo ao esporte.

O sábado se prolongou numa conversa infindável com ele, por mais boas horas, numa verdadeira volta ao mundo em diferentes momentos e estágios das nossas histórias. Impossível registrar aqui numa lauda, um encontro deste, tão rico com tanto conteúdo que ele nos disponibiliza, mas uma frase citada por ele, mais parecia ler a minha mente, tento reconstruí-la:

– O Remo para mim, é muito mais do que simplesmente as competições. Há muito mais por trás disto tudo.

Eu não conseguiria resumir seus argumentos numa crônica, talvez conseguisse num tratado sobre as Histórias de Remador que medalhas não são capazes de contar, mas isto eu não ouso fazer.

Categorias: Crônicas

1 comentário

anTONIO RICARDO LANFREDI · 10 de dezembro de 2023 às 18:10

Seara, excelente registro que você fez, espelhando as emoções vividas no sábado de manhã. MUITO obrigado!!

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