Melhor que bom

Publicado por historiasderemador em

Por Cesar Seara Neto

Eu venho desenvolvendo uma teoria baseada no empirismo, e parece que vem se confirmado. Quando a segunda remada encaixa tão bem quanto a primeira, o treino será bom.

Como formigas em volta de grãos de açúcar, os remadores começaram a surgir às seis horas da manhã deste sábado que amanheceu nublado. Uma brisa riscava rabos de galo n’água. A promessa de calor opressivo e pouco vento, começava a se confirmar.

O treino intervalado iniciando com voga baixa, merecia ser cumprido em guarnição, não num Skiff, aquela ilha itinerante, rodeada pelos seus pensamentos deletérios que insistem em te dizer: você não vai aguentar.

Saímos num Four Skiff. O treino que iniciou com um cloque único dos remos saindo sincronizados d’água, dizendo que seria bom, ficou melhor.

Hoje em dia, os apodos não são bem vistos no esporte, mas na garagem as pessoas são conhecidas assim, por isto não citarei a alcunha do nosso voga, principal articulador do fumacê que sucedeu o treino, apenas me limito a dizer que é torcedor do alviverde paulista, aquele que não tem mundial.

Ele retornou ao esporte como Master, porém força e vontade de fazer o barco andar permanecem. Para os velhinhos que estavam atrás, não foi fácil manter a pegada. Repito suas palavras que definem como iniciou o sábado:

– Que treino!

A minha frente, meu amigo Mário, que Mário? e Purpinho na sota-voga completavam a guarnição. Houve um princípio descabido de motim, quando odor sentido no barco, ainda devido às enchentes e a proximidade da casa de bombas do serviço de esgoto pluvial. O levante foi dissipado de forma breve e rápida, graças a minha psicologia aprendida na faculdade da vida:

– Quem falar não beberá cerveja.

O silencio sepulcral confirmou o sucesso da Remada.

Quando penso que o sábado havia atingido seu ápice, sentado na mureta de pedra do cais, Manczck, leia-se Mansque, uma das lendas vivas do Remo, se uniu aos seus eternos rivais, Moacir e Prof. Roberto Schulz, somando mais de século de Histórias do Remo.

O que presenciei foram momentos de muito respeito, amizade e admiração mútua, o que me motiva e mantém na busca de registros destes encontros de saudáveis disputas, nomes e figuras memoráveis do esporte.

Eles aprenderam a respeitar a Velha Guarda, num tempo que não éramos permitidos questionar a hierarquia construída a pazadas dentro d’água, hoje nos ensinam que o futuro do esporte é trazer novos admiradores do Remo, praticantes ou não, que façam acontecer e perpetuar o que já é eterno.

Para ampliar o nível do encontro, Renato, presidente do América de Blumenau, retorna numa visita amistosa à sua casa onde iniciou os aprendizados do Remo, o GPA, o mais antigo do Brasil, tornando este dia ainda mais prazeroso.

O que se sucedeu foi a melhor parte do treino no estilo alemão, com algumas cervejas geladas no cooler e um assado num meio tonel, simples como a vida deve ser.

Encerro estas linhas com uma fofoca, confirmada por fonte seguríssima, onde um remador que completa dezoito anos, preteriu o sonhado automóvel, por um Skiff. Para quem é um sonhador como eu, me permite continuar a escrever estes textos mostrando a beleza do esporte.

Se você ficou curioso para saber quem é o remador, terá que assistir a LIVE de encerramento, com a participação especial do Márcio, técnico do Paulistano. O nome do atleta exemplo, é citado no vídeo, que afirmo com a chancela da Gica, minha esposa, que ele ganhará uma camisa das Histórias de Remador.

Teremos mais texto ainda neste ano de 2023? Comenta!


4 comentário

Ricardo Diefenthaeler · 17 de dezembro de 2023 às 12:26

Excelente crônica, Seara. Confesso que tive que recorrer ao dicionário (ops, Dr. Google) para alcançar o significado de “apodo”. Um pouco de sofisticação vernacular confere ainda mais qualidade aos teus textos!

Tive também o prazer de encontrar o Manczck, um dos meus treinadores no União nos anos 80, no meu treino de quarta-feira na AABB/Squadra Contieri. Foi uma alegria vê-lo firme e forte!

    Cesar Seara Neto · 18 de dezembro de 2023 às 11:06

    Fazemos o que podemos.

Antonio LANFREDI · 17 de dezembro de 2023 às 14:44

Belo relato para uma despedida de 2023. Só fera nessa história! Boas festas de final de ano!!!

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