Bumerangue

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Por Cesar Seara Neto

Havia chovido alguns dias. O vento sul é assim em Florianópolis, chuva e frio, inverno ou verão. Nos anos setenta começou a pavimentação das principais vias que nos permite contornar a Ilha, entretanto, a conclusão destas obras demorou.

Jaime Montilla, boliviano ou colombiano, estava a visitar a cidade por motivos de trabalho, algo a ver com saneamento, onde meu pai trabalhou e ainda com mais de oitenta anos, trabalha sempre que possível.

O pai, Jaime e eu saímos numa Variant branca, a percorrer toda a Ilha. O trecho que me lembro muito bem, e o que mais me diverti, foi na travessia Ingleses – Rio Vermelho, habitada somente por nativos. A estrada era de barro, devido às chuvas, um lamaçal.

Se eu tenho uma frustração, é não saber dirigir como meu pai. Como bom piloto, não se intimidou e cruzou aquele mar de argila plástica como um verdadeiro almirante, adernando o carro quando preciso. Eu chacoalhava no banco de trás como uma bola de fliperama.

Dentro dos princípios de meu pai sobre hospitalidade e amizade, ele não poderia deixar de oferecer ao seu amigo latino, o que a nossa terra tem de melhor, o encontro do mar com os relevos entrecortados, ora por morros, ora por dunas, ou ainda pela Barra da Lagoa.

Não sei dizer ao certo qual dos dois itens é mais importante para o pai, tampouco, qual dos dois contém ou está contido no outro, amizade e lealdade. Na sua visão, é difícil distinguir o que ele considera substantivo ou adjetivo, leal amigo ou amigo leal.

Luiz Felipe um típico e autêntico brasileiro, potiguar de Natal, completou mais um ano de vida. Aprendi a respeitá-lo e admirá-lo de forma virtual. Quis o Remo, o mais completo de todos os esportes, nos aproximar, superando a distância geográfica de mais de três mil quilômetros. Tem sido uma saudável troca de mensagens, questionamentos, sugestões, uma verdadeira simbiose de opiniões, ele pelo seu lado científico como Mestre ne Educação Física, eu pelo meu lado empírico-passional.

Eu não podia enviar-lhe apenas um cartão virtual pré-fabricado desejando-lhe felicidades, saúde e blá-blá-blá. Resolvi gravar um vídeo de improviso, com a mente e o coração aberto.

No grupo de Whats ele respondeu agradecendo às mensagens que recebeu, através destas bonitas palavras, sinceras como ele, que transcrevo agora (destacadas em itálico).

Como acredito e costumo dizer, “Não há no mundo exagero mais belo que a gratidão’”. Obrigado, Seara e amigos, pelas felicitações. Mas gostaria de externar um comentário que vale a reflexão.

No vídeo gentilmente compartilhado pelo amigo Seara, ele fala que ainda não tivemos a oportunidade de nos conhecer pessoalmente, mas nos tornamos bons amigos, independentemente de diferenças, fronteiras, sotaque, crenças, bordo que remamos kkkk… Apenas compartilhamos algo que nos une, o remo, onde encontramos nossa afinidade. E essa é a maior das medalhas, amizade genuína, como uma suprema recompensa. O remo triunfa em cada instante de autêntica união, amizade sincera e incontestável.

Acredito que a maior das distinções seja a capacidade de unir indivíduos para o bem por meio do esporte. Expresso, assim, meu sincero agradecimento ao meu estimado amigo Seara, e manifesto minha gratidão pela revolução que tem promovido no remo, unindo pessoas, compartilhando histórias emocionantes e exibindo a mais bela face do nosso esporte: as pessoas que o praticam.

Ele fez aniversário, mas na verdade, quem ganhou o presente foi eu.

Categorias: Crônicas

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