O Remo em cores
Meu irmão Du, o Searinha, me enviou um vídeo, onde ele aprece sentado na ré de um canoe, com os pés dentro d’água, ensinando seu aluno de 10 anos a remar. Como pano de fundo, a majestosa e quase centenária ponte Hercílio Luz.
Estas imagens me relembraram um fato que talvez tenha mudado a vida da nossa família, relatada por ele, depois que comecei a contar estas Histórias de Remador.
– Neto, foi tu que me ensinaste a remar. Ali na prainha, em frente ao Riachuelo, num canoe. Talvez tenha sido o mesmo que aprendi.
Eu não me recordava deste fato, justo eu que me orgulho tanto da minha pretensa memória. Acredito que eu tenha feito de forma espontânea, sem nenhuma intenção. O ano era 1982. Ele já frequentava o Clube, o Aldo Luz, aos finais de semana quando o meu pai acompanhava meus treinos e atividades. Neste ano também o pai assumiu a presidência do Clube, quando se quebrou uma longa hegemonia do Riachuelo no estadual de classe aberta.
Anos mais tarde eu parei de remar, o Du seguiu remando por alguns anos, assim como o pai, mas na presidência da Federação. Em 1990 o Du se formou em educação física, tendo trabalhado por um curto período na escolinha do Clube, sendo convidado para exercer a mesma função no Martinelli.
Confesso que durante muito tempo, foi difícil ver o Remo sem cores, até mesmo em tons de cinza. Era impossível me desassociar das cores alvirrubro do Aldo Luz. Como irmão, eu torcia muito pelo seu trabalho, e ali, comecei a entender um pouco a sabedoria do meu pai, ao presidir a Federação, sua visão era maior. O Remo era e é maior do que qualquer clube, federação ou confederação.
A vida seguiu e uma oportunidade profissional me trouxe a cosmopolita Porto Alegre. Levei vinte e cinco anos para me permitir voltar a remar, trabalhando como autônomo, consegui colocar na minha agenda quase diária, este compromisso inegociável.
O Clube que escolhi foi o GPA, o mais antigo do Brasil, desde 1888 vem se destacando nas águas, o seu nome não poderia ser mais gaúcho, Guaíba Porto Alegre.
Aqui neste estado, inúmeros nomes se destacaram no país e até nas Américas, nossos adversários na adolescência, com disputas acirradas, agora, eu visto a mesma camisa, os tons de cinza, novamente ganharam cores, e cores nos remetem a paixão.
Aqui em casa, não dizemos: vou ao GPA, mas sim, vou ao Clube.
Decidi valorizar e cultuar nas Histórias de Remador, as Escolas de Remo, que segundo o Moacir, um dos grandes nomes do GPA, ele não se preocupava em formar remadores, mas sim cidadãos preparados para enfrentar a vida, de forma honrosa e honesta.
São os clubes os grandes responsáveis pelas escolas e formação de novos atletas, são eles quem devemos valorizar, com suas cores que exacerbam nossa paixão, nos permitindo vivenciar e contar mais Histórias, perpetuando assim, o mais bonito e completo de todos os esportes, o Remo.
4 comentário
Antonio LANFREDI · 29 de março de 2024 às 17:54
Bela história. As histórias divergentes entre irmãos é comum. Quando um não lembra de um pedaço do passado, o irmão vai lá e completa a história como se a peça se encaixasse dentro de um quebra cabeça. E nem sempre é uma plena verdade, mas é o que restou na memória.
historiasderemador · 29 de março de 2024 às 18:02
Boa colocação
Renato Lisbôa Müller · 31 de março de 2024 às 23:46
Parabéns pela crônica.
historiasderemador · 6 de abril de 2024 às 22:48
Valeu amigo