Raia sem fim
Eu gosto de números. Eles não mentem. Sempre gostei, são fáceis e previsíveis. Não tem estado de humor. Não se alteram. Podem ser acrescentados ou diminuídos, mas continuam a ser eles mesmos.
Meio metro de altura de água foi despejado de forma constante, sobre a superfície do município de Porto Alegre nestas primeira três semanas do mês de maio de dois mil e vinte e quatro. Meu pai completou oitenta e dois anos de idade, nasceu um ano após a famosa enchente de quarenta e um. Números frios para corações machucados, olhos úmidos e a inteligência ameaçada.
Numa regata, uma boa largada é fundamental. Estar a frente dos outros, fortalece o psicológico, te dá mais força, mais vontade de vencer. Após a largada, a transição para o árduo e longo percurso. É quando a resistência entra em cena. A cabeça é a maior força que um remador pode ou deve ter, desde que seus músculos e a bomba de sangue, estejam bem preparados.
Tenho procurado colocar em prática estes ensinamentos que o Remo me deu, mas a falta que os treinos me fazem, tem se refletido na minha alma e capacidade cognitiva.
O sol brilhava nesta quarta-feira, a temperatura aumentou, a umidade evaporou. Pessoas recomeçando, resgatando o pouco de vontade que permaneceu escondida ou submersa, em móveis, utensílios, livros e fotografias.
As águas caíram novamente com força e constância, não poupando ninguém. A esperança de retornar a vida normal, deu lugar a incerteza. A água subiu.
Eu me sinto como se estivesse remando, e a cada quinhentos metros percorridos, da lancha vem o comando, mais mil metros!
Mas não podemos desistir, mesmo que a linha de chegada seja móvel, temos que ter inteligência para entender que somos falíveis, entretanto, na guarnição, meus companheiros precisam de mim, assim como eu preciso deles.
Vamos em frente!
0 comentário