Está ficando bom professor
Remos importados a muito custo e impostos, que já deram muitas glórias em águas da América do Sul, agora tem a sua anatomia acariciada em detalhes com vigor, pelo lado verde das esponjas. A parte amarela não é suficiente para quebrar a relação intrínseca entre o barro e a resina que cobre as fibras de carbono.
A alegria ou tristeza de remador dura até a segunda-feira. Domingo era o dia de Regatas, hoje é o merecido descanso dos trabalhadores. Aos sábados ocorrem as disputas. Guarnições alinham lado a lado para ver quem chega a frente dos outros. Depois que o sinal sonoro toca, sorrisos e abraços entre os vencedores. Os que chegaram atrás aplaudem os ganhadores. Entre si refletem sobre o que não deu certo, para na segunda-feira retornar aos treinamentos. Quem pendurou mais um ouro no pescoço, sorri até o início da nova semana, mas sabe que precisa voltar a treinar, há que se superar na próxima disputa e também aos seus adversários que virão com mais energia na pegada, sedentos para abater o campeão.
Eu ainda não havia experimentado competir contra um adversário que em teoria é insípido, inodoro e incolor, mas uma das substâncias que mais abunda na natureza, de forma sábia faz associações para dominar a superfície terrestre com sal, partículas em suspensão e no nosso caso, com o barro.
A fita verde do boreste e a vermelha do bombordo que faz a separação da pá com o início da haste do remo, merecem o nosso carinho e atenção, o lado amarelo da esponja é o mais indicado a fim de evitar fricção em demasia e destaca-las dos remos. Há casos de remadores que insistem em trocar os lados bombordo e boreste, dando um show a parte e deleite para quem fica na rampa, remando com os cutelos para fora d’água.
Todo o perímetro da haste deve ser alisado com uma mão em formato de concha, enquanto a oura gira o remo, como se fosse o movimento da palamenta que fazemos.
As chumaceiras modernas cheias de sulcos, escondem a mistura de lodo e servem de base para os anéis dos remos que são apertados por parafusos e deveriam ser limpos com escova de dentes, mas este preciosismo não nos é permitido ante a quantidade de pares de remos a serem limpos.
– Não esqueçam da parte lateral da pá! Na borda também fica entranhado.
Concluída a limpeza da parte de cima da haste, chegamos aos punhos, responsáveis pelas mãos calejadas dos remadores. Ainda encontramos punhos de madeira nos remos de ponta, ou palamenta simples, mas a maioria é de borracha, agora repletas de mofo e lama. Necessário esfregar a esponja por todos os seus poros que aumentam a aderência nas nossas mãos.
A água tratada que chega pelos canos remove este encontro entre tensoativos, partículas orgânicas e inorgânica, sendo lavados para longe de nossas memórias que insistem em revolver o lodo que já não existe mais ou escondido nos cantos.
Quando o desânimo começa a nos abater, diante de nossa insignificância ao tamanho da limpeza que temos pela frente, nosso Coach, líder nato e econômico nas palavras, do alto do seu corpanzil, por trás de seu olhar sério, deixa seu bom e justo coração manifestar sua emoção e nos brinda com uma frase simples e direta:
– Está ficando bom professor!
Vamos em frente!
2 comentário
Antonio Ricardo Lanfredi · 9 de junho de 2024 às 12:59
Esse é o coach. E esse é o Seara en gran estilo.
historiasderemador · 9 de junho de 2024 às 17:36
Tamo junto