Por Cesar Seara Neto

O lava-jato começa a expor a composição granulométrica do piso de concreto desempenado. O seixo rolado utilizado como agregado graúdo denuncia a idade da obra. Vergalhões de aço liso que deveriam estar embutidos na massa do concreto da laje, aparecem entre as marcas de tábua das formas, confirmando que a edificação surgiu nos anos cinquenta.

Começo a me lembrar das aulas de Materiais da Construção Civil I, com o saudoso e teatral Prof. Albeni, seu sobrenome é desnecessário, quem estudou na Federal de Santa Catarina, sabe quem ele foi. O mesmo que se desdobrava com gestos e onomatopeias criadas por ele, lá de cima do palco do anfiteatro lotado de estudantes ávidos por conhecimento, falando com sua voz potente, alternando alto e baixo volume.

O concreto aos três dias de idade é um bebê de mamadeira e fraldas. Quem não consegue entender que ele era frágil? Eu me refiro ao concreto.

O agregado miúdo é o que passa na peneira com malha de abertura de 4,8mm, podendo ficar retido até 15% do material. A areia de Porto Alegre, era considerada pelo autor e Prof. Eládio G. R. Petrucci, uma das melhores para a produção do concreto.

Ao esfregar com vassoura e rodo para limpar o piso do Clube, lembrei de todos estes ensinamentos. Acredito que meu pai na primeira turma de Engenharia Industrial da UFSC, tenha sido aluno do Prof. Petrucci, fundador do E.P.T. Também me veio a memória que o Prof. Albeni gostava de pegar um café e bebericar na obra, deixando um resto frio, para de propósito, atirá-lo na betoneira enquanto batia o concreto, só para ouvir o grito imediato do pessoal:

– Ah! O concreto não gosta de café!

Então por cima dos óculos de leitura, que de vez em quando voavam nos momentos de exaltação ante nossas sandices como resposta às suas indagações, e com o olhar maroto e a voz macia, dizia:

– Mas eles não sabem que o meu café não tem açúcar.

Quanta ginástica para nos ensinar que o açúcar retarda o início de pega do cimento. Isto me foi dito a quatro décadas.

O Parque Náutico Alberto Bins foi inaugurado pelo Presidente Kubitschek, o predileto do meu avô materno. Mineiro de sorriso fácil e contagiante, que prometeu modernizar o país. No vídeo onde é lançada a pedra fundamental do GPA, podemos vê-lo ao lado de um dos patronos mais importantes da história do Clube, Dr. Mário Rigatto, médico conceituado e respeitado por todos. Seu filho Paulo, é o atual presidente do Clube, herdou do pai, a mesma paixão pelo GPA, onde confessava com orgulho que seus mais valorosos amigos estavam lá.

Remover o barro de barcos, remos, paredes e piso, é uma tarefa similar a tirar a barba usando água fria, os poros não se abrem, arrancando apenas a parte superficial, ficando nosso rosto com aquele tom cinza. Descobri também mais um ensinamento que o Remo me deu, o lava-jato tem potência quando usado tangenciando o piso, solta o barro impregnado, criando uma calda, mas ele não tem a capacidade de leva-la adiante de forma organizada, necessitando do rodo que não consegue raspar o barro imiscuído nos poros do piso, criando assim uma sincronia, da mesma forma quando remamos, um apoiando o outro.

Vida que segue, sorrisos que surgem. Vamos em frente!