Flor que flutua sobre águas calmas

Publicado por historiasderemador em

Por Cesar Seara Neto

Dormir cedo ainda é o melhor despertador, só perde em eficácia para bexigas de gente idosa. Faltavam alguns minutos para o alarme soar e dois olhos estalados no quarto escuro, procuravam o que ver. A cabeça estava agitada.

Eu me sentia como se fosse fazer um passeio do colégio, com direito a cantoria no ônibus, pastéis de carne frios enrolados em panos de prato, feitos pela minha avó Rosa, que despertava ainda mais cedo para fritá-los. Eles deveriam ser o nosso almoço, mas eram devorados no meio da manhã com refrigerante quente e sem gás.

A neblina cedo na manhã de sábado, nos obrigou a fazer o treino pesado nas máquinas de remoergômetro, seguido por um circuito de potência. As famosas resenhas dessa vez, tiveram que ficar para uma próxima. Eu estava ansioso para chegar ao SAVA Iate Clube a fim de conhecer a elétrica em quatrocentos e quarenta Volt, Mariluce e as meninas da equipe Awa’pe.

É muito bom quando imaginamos que teremos uma manhã agradável, mas ao chegar lá, é muito melhor. Inicia quando a menina sorridente da portaria, anota a placa do carro a punho no papelucho, enriquecido com desenhos de carinhas feitos por ela.

Nuvem baixa é sol que racha. O rio quase sem vento e o céu azul formaram um pano de fundo especial, dando um contraste às canoas coloridas na água e no gramado, das várias equipes que coabitam de forma harmoniosa o SAVA. Já nos primeiros passos que dei, a potente e carismática voz do Igor da Ho’Ononopono VA’A anunciou, olha quem está aqui. Meu primeiro abraço do dia de mais um amigo virtual que agora é real.

Quando a energia é recíproca, as coisas acontecem de forma mais fácil, a interação é maior e a comunicação flui melhor. As meninas da Awa’pe, em tupi guarani, flor que flutua sobre águas calmas, me encheram de perguntas sobre a LIVE que faremos dia 05/10/2024 a partir das 9h.

A princípio pensei que seria algo simples, mas as Remadoras Rosa do Brasil, ligadas ao International Breast Cancer Paddlers Commission – IBCPC, são quase VINTE equipes, abrangendo TODAS as regiões do país, e claro, todas querem compartilhar conosco as benesses dessa atividade mágica que as sobreviventes do câncer de mama dispõem.

Algumas meninas da Awa’pe estavam no treino e foi possível conhecer um pouco de suas trajetórias, inclusive do Everton, marido e companheiro de remada da Mariluce. Percebemos numa rápida conversa sobre a LIVE, que será muito útil para cada equipe, ter um roteiro preparado, são apenas cinco minutos para contar os aspectos positivos experimentados, explicar um pouco das campanhas de prevenção que realizam na prevenção do câncer de mama. Importante que divulguem como as pessoas podem contribuir com as suas equipes, e a quantidade de meninas remadoras, e outras informações que julgarem importantes e/ou necessárias. Falar de dentro do barco, será mais um atrativo, para que possamos conhecer a realidade de cada local.

Eu acredito nessa causa e estou junto, porque quando criança, vi minha avó Rosa passar pelo tratamento, bem sucedido, que nos permitiu conviver com ela por mais quase vinte anos, entretanto, minha prima Andréa, neta da Vó, não teve a mesma sorte, demorou para diagnosticar a doença, a cura não veio e a perdemos com apenas quarenta e seis anos de idade.

Confesso, porém, que a liderança da Cleusa Alonso que passa por problemas particulares, é algo que nos inspira e contagia para levarmos AVANTE o movimento. Ela é uma pessoa que está acima desse plano terreno que vivemos. Estou ansioso para conhece-la e dar-lhe o esperado abraço em Brasília, quando transmitiremos ao vivo o Festival Dragon Boat nos dias 24 a 27 de outubro. Antevejo lágrimas.

Categorias: Crônicas

4 comentário

Marcia Costa · 29 de setembro de 2024 às 16:29

Ser uma remadora Rosa é ser o remédio para outras pessoas, é nunca deixar que a pessoa que está ao seu lado saia sem se sentir melhor, é mostrar humildade no poder da cura pelo acolhimento, ser uma remadora Rosa é saber multiplicar o amor e a força que existe dentro de cada uma de nós.

    historiasderemador · 30 de setembro de 2024 às 16:33

    O Dragon Boat representa muito isso que você descreveu. Uma ajudando a outra.

Mariluce Campos de Oliveira · 29 de setembro de 2024 às 20:29

Quando recebi o diagnóstico, me perguntei: e agora? A palavra ‘câncer’ ecoava em meus ouvidos, trazendo consigo medo, incerteza e a sensação de impotência. Sim…Impotência diante de algo que realmente não temos o controle e isso me fez refletir que tinha que fazer algo e entendi que um diagnóstico não é um fim, mas sim um novo começo. Minha superação aconteceu no desejo de ajudar mulheres a passarem pelo diagnóstico de maneira mais leve e foi aí que conheci o Movimento de Remadoras Rosa do Brasil. A cada remada, fortaleci não apenas meu corpo, mas também minha mente.
Ser uma remadora rosa é mais do que apenas praticar um esporte. É um símbolo de força, esperança e união. Ao lado de outras sobreviventes, encontramos um propósito maior: inspirar outras mulheres a enfrentarem essa batalha com coragem e determinação.

    historiasderemador · 30 de setembro de 2024 às 16:31

    Esta é a magia do movimento Remadoras Rosa. Conseguir nos contagiar com essa energia. Muito bom conhecer vocês

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