Carta para Daniela

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Por Cesar Seara Neto

Olá minha amiga. Quanto tempo não nos falamos! Espero que toda água que se derramou sobre o solo gaúcho, tenha deixado tua terra fértil para que possas semeá-la, aproveitando o calor primaveril e colher bons frutos no futuro.

Embora não tenhas me solicitado qualquer tipo de atualização sobre o clube de remo mais antigo do Brasil, o GPA, te darei algumas notícias alvissareiras.

Eu acredito em coincidências. Dias desses, tomei café com uma grande figura, um excelente remador, que se afastou também do clube. Sei que tinhas afinidade com o jeito dele pensar o Remo. Além de muitas pazadas na água, ele deu várias em terra, movimentando muita inercia e dando a oportunidade ao GPA entrar no Comitê Brasileiro de Clubes, o CBC.

Hoje em dia é muito importante participar do CBC, ao mesmo tempo que ele proporciona recursos para aquisição de equipamentos e contratar profissionais, ele te obriga a manter tuas contas em dia, em especial os tributos. Não tem sido fácil para a direção do clube manter o equilíbrio financeiro desde as enchentes de maio, o presidente tem suado sangue!

Eu tive o privilégio de remar um double com aquele cara muito alto, forte para caramba, que desde o início tu tinhas batido o olho nele e vislumbravas mais um que seria fisgado pelo gosto ao remo. O professor me escalou para a proa, deixei a voga com ele. Fazia tempo que eu esperava por essa oportunidade. Sabe quando tu sabes que a remada vai dar certo? Pois é, eu sabia, mas para que isso ocorresse foi necessário remar. E como é bom remar. Sem o compromisso de remar com veteranos, mas com um aprendiz, que te faz voltar no tempo. Parecia que a minha cabeça estava repleta de cabelos novamente, e eu era aquele menino que usava aparelho nos dentes, ansioso em fazer o barco andar. E andou.

Esqueci de dizer que o voga saiu da categoria pré-master e foi promovido a Master. Coisas que vocês começaram há um tempo, junto com aquele cara simpático e educado, que tem tatuado na pele o GPA e sua outra paixão colorada. Por falar nesse cara que desenvolvi uma grande admiração, ele também está envolvido com assuntos familiares e tem deixado saudades aqui no Clube. Daqui a pouco ele retorna.

Um grupo de abnegados, mantendo a tradição do Clube, se uniu arrecadando recursos para a primeira leva de barcos a serem consertados, graças a uma barbada que o nosso professor João conseguiu com um dos caras que mais entende de fibra de carbono.

Agora nosso desafio é a rampa retorcida como se fosse arame farpado pela força das águas de maio. O professor instalou temporariamente o flutuante na escada lateral. Coisas de malabarista. Estamos unindo esforços e mais uma vez lembro de uma frase que me dizias, nós como voluntários oferecemos o que dispomos, as vezes é um aporte bancário, em outras prestando serviços. Esse movimento todo, me remete a outra palavra criada de forma anônima dentro das garagens que o Clube já teve: Gepeano. Há quem diga que é um substantivo, outros se orgulham quando ela lhes é dirigida como um adjetivo. Entretanto, é difícil precisar a partir de quando alguém se torna um gepeano, não existem parâmetros predefinidos, ou um exame com perguntas e respostas objetivas, basta que seu coração pulse mais forte e se encha de orgulho ao ver a estrela que carregamos no peito.

Categorias: Crônicas

1 comentário

Andre donadio · 9 de novembro de 2024 às 09:10

Caro Seara , lindo e verdadeiro texto. De fato Gepeano é um adjetivo, um substantivo, um estado de espírito, algo que acontece em nossas vidas, não percebemos como e quando e começa, somente que ela acontece, e fica, fica para sempre.

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