Saindo da zona de conforto

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Por Cesar Seara Neto

As provas de remo podem ser disputadas em várias distâncias. Nas categorias mais jovens, em apenas duzentos e cinquenta metros ou meio quilômetro, para os Master em mil metros; os juniores, mil e quinhentos, mas é na prova olímpica de dois mil metros (2k), que se mostra quem realmente é. Comum ouvir nos comentários das regatas que muitos dividem a prova em duas metades, antes e depois dos mil. Eu prefiro dividi-la em três partes, a largada, percurso e chegada.

O remo é um esporte interessante, se treina por longos períodos, com uma voga baixa, mantendo a frequência cardíaca dentro de uma zona aceitável, que não nos leve a extenuação, mas em todas as remadas, eu disse todas as remadas, é necessário passar o remo rápido dentro d’água, isso é força, ou melhor, potência. Entretanto para se fazer isso repetidas vezes, há que se ter resistência.

Sem pulmões e coração bons, você não consegue isso. Já afirmei noutra oportunidade sobre a herança genética dos privilegiados que nascem com uma condição absurda, capaz de absorver muito oxigênio e transformá-lo em energia, que contrai e relaxa músculos.

Nas provas de remo, o ritmo das remadas é muito maior do que na maioria do tempo que treinamos, e a duração da prova, muito menor. Começa a contradição, muito treino aeróbico, tal qual a maior parte da prova, preparando para a chegada, que demanda elevada produção de energia em alta intensidade1. Quando quase mais nada funciona de forma normal no nosso organismo, o coração bate desesperado para mandar sangue bom para as células dos músculos, que se contraem e se distendem, já inundados com muito lactato2.

A dor é insuportável, as pernas queimam, em especial as coxas. O cérebro começa a entrar em pânico e tenta derrubar a chave geral para dar o comando desliga. Esse é o cérebro de uma pessoa normal, não de um remador. Agora entra o que tento explicar, ou entender para explicar, como um remador consegue dominar sua mente? É como aquela passagem do sábio que possui dois cães, um em cada ombro, um mau e perverso, disposto a enfrentar tudo e a todos, o outro pacífico que suporta todas as provocações. Perguntado sobre qual dos dois ele é, sua resposta: o que eu alimento.

Assim vai o remador ao final da prova, lutando muito mais contra si mesmo, contra suas provações, suas dores e seus temores. A cada remada dada, aumenta o desconforto, mas em compensação, diminui a distância para cruzar a linha de chegada. Invisível, impossível de tocá-la, pode ser desenhada de forma virtual no papel ou na tela que assistimos, mas o tempo que mantemos contato com ela, é impossível medi-lo, mas é o suficiente para teres o direito de pendurar uma medalha no pescoço ou levantar um troféu.

Seria esse o principal motivo para o remador buscar forças de onde não tem? Não sei responder, mas posso afirmar que sempre existirão infinitas histórias de remador que medalhas não são capazes de contar.

Créditos da foto: Miriam Jeske/CBR

  1. Inicialmente havia sido publicado que a chegada é anaeróbica. A correção foi feita pela contribuição do Prof. Fabrício Boscolo, coordenador do Projeto Remar para o Futuro de Pelotas, RS. ↩︎
  2. Também havia sido publicado “já contaminados com muito ácido lático”. O correto é lactato. Contribuição do Prof. Fabrício Boscolo. ↩︎
Categorias: Crônicas

3 comentário

Carlos Bedê · 28 de dezembro de 2024 às 15:25

Realmente há que ter condições físicas para chegar ao fim de uma regata. Não sei se por acaso o final de ano, fez a remissão ao remo, o ato de escrever. A mente funciona por pensar no percurso, traçar as linhas e chegar ao fim… ou o começo de algo novo.

Abraços. Bom 2025

Cesar Seara (Pai) · 28 de dezembro de 2024 às 15:30

Os rudimentos do remo, em meu ponto de vista, são: força, técnica, resistência, equilíbrio e habilidade, os quais estão bem descritos na na presente história, apesar de não aparecer, explicitamente. Parabéns, meu Filho, um vetusto escriba….

Ana Silva · 28 de dezembro de 2024 às 16:21

Remo é vida, amor, alegria, força, caminho, respeito, conquistas, lágrimas, vitórias, derrotas, sorrisos, coletividade entre outros. O esporte faz toda diferença pra vida.

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