Vida de remador

Publicado por historiasderemador em

Por Cesar Seara Neto

Para quem não conhece o remo de perto, pode imaginar que o remador é aquele ser que tem braços fortes, as mãos calejadas e cheias de bolhas. Pode pensar também que são criaturas que não deveriam ser levadas a sério, acordar antes de todos para ficar de costas para o seu objetivo é uma sandice. Maior ainda é tentar descrever o que se passa na cabeça do remador.

Quando chega o último ano da sua vida como júnior, ele poderá fazer autoescola e ter sua habilitação para conduzir veículos automotores, e assim exercer nosso maior direito, o de ir e vir. Mas quando ele se der conta sua vida se tornará um “ípsilones” (Y). Para qual das linhas ele seguirá? Uma cheia de incertezas e desafios esportivos, a outra também de dúvidas profissionais e pessoais. A decisão é tomada de acordo com as necessidades de cada um. Aqui entra o equilíbrio emocional, o fator psicológico é o que determinará para que lado o atleta escolherá seguir.

O remador é obstinado, diz o Giovanni do Corinthians, mas esta é uma das partes da nossa esquisitice, usar meias e chinelo para mim é a máxima. Remadores que persistem no esporte acabam se tornando técnicos, outros dirigentes dos clubes e federações que frequentaram. Alguns viram master e aqueles que simplesmente entram para a banda marcial mesmo sem saber tocar trompete, e como são desafinados, mesmo assim tocam cada vez mais alto.

Agora um conselho para quando forem viajar, escutem o conselho das suas esposas, para os que são casados. Comprem um pijama caso não o tenham. Nada de Bob Esponja, um liso básico, cinza de preferência, quanto mais neutra a cor, melhor. Na pior das hipóteses pode procurar aquele pijama que deveria ter sido usado na lua de mel.

Remador que se preze, tem roupas de treino. Além da quantidade ser infinita, essas peças são eternas. Elas não se desgastam, pelo menos é o que vemos. Por isso recomendo que nas viagens não pensem que aquelas cuecas que já não sabem mais o que é elástico, são pijamas. As costuras das barras das pernas já fazem parte do imaginário, e quando você vestir seu macaquinho ou bermuda, se enrolarão por baixo dele, e você terá que enfiar a mão discretamente e puxar. Se não fizer isso, no meio do treino terá que dizer “Alto”, e arrumar a situação. Elas são confortáveis para dormir, economizamos tempo no outro dia para nos vestirmos, mas quando colocadas contra a luz, o meridiano de Greenwich aparecerá, aquela linha imaginária que divide as duas bandas.

Ainda há remadores que ficam décadas longe do esporte, represando sua paixão, e quando não há mais espaço no seu enorme coração, destilam essas pérolas em frases escritas, e a três dias do lançamento do seu livro, ficam a pensar se pessoas mais lúcidas do que nós, entenderão o que tentamos dizer. A angústia da largada não é tão grande quanto o que passo agora.

Categorias: Crônicas

2 comentário

Hugo · 8 de setembro de 2025 às 02:36

Talvez sua melhor crônica, parabéns!

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