Jantar de Garagem 2018
Por Rosângela Mello – Novembro 2018
Madrugada ainda ou ao entardecer ele nos espera. Organizados em grupos ou sós, disfrutamos do privilégio de lançarmos nossos barcos ao rio. Os remos abrem a linha d’água, tímidos à princípio, intensos no crescer da confiança.
Remo é ritmo, respiração, tensão e relaxamento, mente vazia e alerta, num paradoxo incompreensível ao racional. Pensar sim, mas apenas em pequenas doses. Sobretudo, sentir: a água, o barco, a parceria, numa comunicação silenciosa. Sentir o prazer da pegada em conjunto, do encaixe da força, da respiração ritmada. Ouvir a água e o barco deslizando. Confiar. Acreditar na maestria de seus parceiros e na sua própria. Acreditar que toda guarnição busca realizar-se, remada a remada, na sincronia dos corpos multiplicados e percebidos como um só. Um único pulsar, um único sentir intenso de um coração plural que se amplia e se incendeia. Dez remadas! Outras dez! É nossa! É nossa a vitória sobre nós mesmos, sobre as individualidades e os egoísmos, as limitações e nossos medos. Uma guarnição é uma alma coletiva, plena de dor e energia no sobre humano esforço de superar-se. Partilhamos as alegrias das vitórias e do convívio. Dividimos as derrotas e dificuldades do esporte e das vidas e assim as tornamos mais amenas. Por isso, unidos por nossos barcos e remos em múltiplos desafios seremos sempre uma fraternidade. Afastado dos rios, um remador será ainda um remador. Atormentado sempre pela saudade desta força coletiva e inexplicável que significa remar.
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