Por Cesar Seara Neto

Daqui a algumas horas voltarei a ser uma criança com cinquenta e sete anos. Entrarei no ônibus com destino a Mendoza para participar do meu terceiro encontro de Remo Master Sul Americano.

A semana terminou para mim nesta sexta-feira de uma maneira muito agradável. Viajei até Pelotas para ver meu filho Miguel, o caçula, receber o diploma de Engenheiro da Computação, completando a quarta geração consecutiva de engenheiros na família Seara. Ainda não sei o que foi maior, a admiração ou orgulho pela sua conquista.

No início da semana participei de uma aventura, que merecerá ser contada com detalhes numa outra oportunidade. Viajei com dois remadores até o extremo oeste do Rio Grande do Sul num famoso bate-volta. As minhas viagens sempre são uma fonte inesgotável de histórias.

Em paralelo a tudo isto, obrigações profissionais que garantem o pão nosso de cada dia, a serem concluídas, logo após a publicação desta crônica e os treinos, a mais importante das ferramentas para se conseguir participar de competições.

A delegação do GPA, o Clube de Remo mais antigo do Brasil, (1888), sempre é numerosa e com atletas de todas as categorias de idade, mas a partir do momento que passamos para dentro do veículo, aquela cortina invisível que atravessamos, funciona como uma máquina do tempo. Voltamos todos a melhor fase de nossas vidas, a infância.

Brincadeiras, muitas histórias, a rádio GPA com direito a microfone e entrevistas gravadas apenas nas nossas memórias. Quem sabe neste ano, com a autorização das nossas estrelas hollywoodianas teremos imagens. Não prometo nada.

Para viajar mais apresentável, tratei de encarar o banho dominical com a água lavando todas as coisas desnecessárias, permitindo mais inspiração e palavras graciosas para entreter o paciente leitor que me acompanha.

Eu não poderia atravessar a fronteira com os cabelos desorganizados. Peguei a minha máquina de cortar cabelos, regulei na lâmina dois. Pedi auxílio para a minha fiel companheira Gica, assistente de bastidores e de palco, para dar o acabamento com a lâmina um na parte inferior. Descobri num barbeiro em Floripa que isto é chamado de disfarçado.

Quando ela se aproximou, olhou como se estivesse fazendo uma dissecação de células num microscópio e me disse com seu sotaque do Alegrete:

– A lã está cada vez menor.

A organização de uma delegação é cheia de detalhes, muitas pessoas trabalham de forma profissional, e muitas, inúmeras, de forma voluntária e anônima.

Descobri com o passar do tempo, que a grande parte da história, é feita pelos anônimos, que na maioria das vezes, é desconhecido por quem assiste a caravana passar.

Para mim, a grande importância destas linhas que procuro escrever em tom jocoso, reside no fato de que estamos a caminho de mais um Encontro, que na verdade é composto por competições isoladas, com guarnições dispostas lado a lado. As que são mais rápidas, chegam antes das outras. Ao fim do Encontro, o Clube com mais vitórias, levanta o troféu de Campeão.

Os remadores master Master, deveriam receber uma medalha ANTES de entrar nos barcos, e outra após a conclusão das provas, a título de reconhecimento pelo bem que fazem ao esporte, mostrando que a nossa saúde é nosso maior valor.

Entretanto, eu penso que carregamos uma responsabilidade maior, e não podemos nos cegar com a nossa vaidade ao tentar vencer nossas provas, sob o risco de nos esquecermos de que somos exemplos, e devemos formar novos líderes, que tenham capacidade maior que a nossa, para conquistar e formar novos atletas.

O Remo é muito maior do que cada um de nós, muito maior do que nossa vaidade e orgulho individual para carregar uma medalha no peito.

Gostaria de agradecer ao Sr. Ruben do Club Mendoza de Regatas por toda sua ajuda incomparável e desmedida, com a tramitação de documentos que possibilitou o transporte da carreta com os nossos barcos do GPA, dirigida pelo pessoal mais que prestativo da RodoRamos de Parobé, RS.

Esta crônica eu dedico aos profissionais formados em Educação Física que promovem a melhoria do nosso esporte, mas também aos que não são formados, e mesmo assim, se dedicam da sua maneira, tornando nossa vivência e convivência cada vez mais saudável e agradável.

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