Lágrimas de suor
Por Cesar Seara Neto
Não pretendo fazer um tratado sobre a fisiologia ou da composição química da lágrima, tampouco a dinâmica do nosso organismo de quando choramos, sob o ponto de vista neurológico ou psicológico.
O choro muitas vezes é visto como uma fraqueza, eu o enxergo como uma beleza, em especial quando ocorre no esporte, ainda mais no Remo. Já vi brutamontes derramando lágrimas no plural, outras vezes, uma única furtiva lágrima no singular.
Ontem, tentei ler em voz alta a legenda de uma postagem que fiz para o Instagram do @gpa1888. Tive que passar o texto escrito para a minha assistente de bastidores e palco, agora promovida também a revisora editorial, porque a voz ficou embargada na garganta. Nota, o texto não era nada demais.
O saudoso e eterno Presidente de Honra do Aldo Luz, Sady Berber, me confidenciou certa vez, quando estava no topo do pódio da América do Sul, que seu característico sorriso, tomou uma configuração diferente, às primeiras notas do nosso Hino Nacional.
– Dá um nó na garganta.
No ano de mil novecentos e oitenta e sete, eu já havia dado as costas ao Remo, não conseguia brincar de remar, apenas ajudava meu pai, pilotando a lancha do árbitro nas regatas. Neste ano, presenciei uma cena que até hoje persiste na minha memória. Do alto de seus mais de metro e oitenta, discursando em cima de uma cadeira, Dr. Saulo Soares, após um longo jejum do Martinelli nos Campeonatos Estaduais Sênior, proferiu estas palavras muito emocionado:
– Este esporte ingrato, que treinamos tanto, tão difícil de ser percebido.
Eu fui obrigado a me distanciar do evento, para sozinho, derramar copiosas lágrimas. Hoje em dia entendo um pouco melhor o motivo, mas confesso que aquela época, não entendi a minha reação.
Numa viagem para uma competição, já remando como Master, com o objetivo de nos entreter e fazer as longas horas sentados no ônibus passarem mais rápido, foi providenciado um microfone e uma rádio móvel improvisada. Um grande remador foi entrevistado. Já na primeira pergunta, a resposta foi:
– Eu tenho muita coisa para falar, mas não vou falar. Desandando num choro que comoveu a todos, exceto os motoristas que estavam isolados na sua cabine.
O que me motivou a escrever esta crônica, foi a foto tirada de forma amadora, veiculada pela Campeã Mundial Fabiana Beltrame, da também Campeã Mundial, Josiane Lima, aplaudindo suas adversárias, logo após sua última vitória na segunda etapa da Copa do Mundo, ocorrida em Varese, Itália.
Quantas mensagens consegui captar deste momento. Em primeiro, o sorriso sincero vitorioso, de quem cumpriu o seu trabalho de forma honrosa, mas acima de tudo, RESPEITO, ao aplaudir as adversárias. Somente quem treina duro, sabe o valor de cada calo nas mãos e o peso de cada gota de suor derramado.
A televisão ligada, sintonizada na transmissão ao vivo, num momento mais que explícito de tietagem escancarada, de campeã para campeã.
Esta cena me reacendeu a pergunta, o que nos emociona ao ponto de torcermos até mesmo para uma imagem a milhares de quilômetros que não nos ouve, mas certamente, sente toda esta vibração positiva?
Fica aqui registrada a minha admiração para TODA a equipe da CBR que competiu de forma tão brilhante, subindo ou não no pódio.
Você que já participa do nosso esporte ou que ainda não começou a frequentar as Regatas, comenta aqui no site, o que você acha. Não vale resposta pelo WhatsApp ou no Instagram. Basta digitar o seu nome e e-mail ao fim deste texto.
12 comentário
Sandra Regina da Silva Cayres Berber · 18 de junho de 2023 às 22:13
Não tem como não ficar com um nó na garganta ouvindo o Hino Nacional, principalmente depois de uma competição! E olhe que meu pai, Sady Berber, não era de demonstrar muito as suas emoções!
Imagino que a Josiane tenha sentido o mesmo. O espírito esportivo transpareceu no aplauso dado às adversárias. Gesto de admiração e respeito, sabendo os esforços que foram necessários para que cada uma pudesse estar naquela raia.
Parabéns, Josiane, por sua vitória! Consequência de sua dedicação, acompanhamento técnico e apoio recebido.
historiasderemador · 19 de junho de 2023 às 09:22
O Sady era fã da Josi! Duas referências!
FRANCINE EVALDT · 18 de junho de 2023 às 22:54
👏🏻👏🏻👏🏻como é bom chorar de felicidade, orgulho, dever cumprido 🥰
historiasderemador · 19 de junho de 2023 às 09:21
Muito bom Fran
Mario Richter · 19 de junho de 2023 às 06:57
O remo como todos os esportes e vou comentar porque fui velejador competitivio e agora remador master se bem o que são lágrimas. São todos momentos longe da família e dos mais íntimos. São os treinos e provas que participamos exaustivamente por anos e anos para nossa vitória particular dentro do esporte. Nem todos conseguem a glória da medalha do podium, mas todos que tentamos fizemos o mesmo treinamento destes, com suor e lágrimas. E no momento só tenho que parabenizar a todos que estão e vão treinar. Não existe a possibilidade de vencer sem se esforçar e a lágrimas vão vir ganhando ou perdendo. Um abraço fraterno a todos remadores e em especial a Josiane neste momento…
historiasderemador · 19 de junho de 2023 às 09:17
a medalha é um detalhe! abraço meu voga
Marcelo Piovanotti · 19 de junho de 2023 às 07:02
Simplesmente sensacional!
historiasderemador · 19 de junho de 2023 às 09:16
Valeu amigo
Gabriel Ferreira da Costa · 19 de junho de 2023 às 11:19
Bom dia! Excelente texto, parabéns.
historiasderemador · 22 de junho de 2023 às 09:22
Obrigado Gabriel!
Lilia de Oliveira · 20 de junho de 2023 às 06:52
Eu sou do tipo chorona. Essa vitória da Josi vale muitos aplausos, sorrisos e lágrimas de emoção mesmo.
historiasderemador · 22 de junho de 2023 às 09:22
Tem que chorar!