O remo que não se vê

Publicado por historiasderemador em

Por Cesar Seara Neto

As viagens só são válidas se trazemos na mala alguma amizade nova com um sotaque diferente. O que dirá se a bagagem vier com vários sotaques misturados?

Eu trabalhei aqui na Bahia no primeiro ano da minha carreira como engenheiro. Eu ainda não conhecia a Ribeira, berço do remo baiano. Os traslados do hotel para a raia foram ao lado da comissão de arbitragem, todos desconhecidos para mim, exceto a Ana Kist, diretora de arbitragem da Confederação Brasileira de Remo, CBR. Sua experiência como árbitra internacional tem feito uma certa diferença, o olhar clínico, a postura e a retidão nos contagia.

Eu sempre apresentei o documento de identidade para participar das regatas, mas nunca conferi o RG de ninguém. Algo simples, é só olhar a foto e identificar que aquele rosto, muitas vezes conhecido, confere com o nome escrito, mas fazer conta de cabeça para confirmar a idade, é apenas o começo do procedimento de uma regata que tem um grupo que até parece vasto, mas diante de tantos afazeres se torna pequeno.

O público merece respeito, os protagonistas do esporte, os atletas também. Horários devem ser cumpridos, quem se atrasa para o alinhamento, deve ser punido, não que este seja o fim do esporte, mas um meio para que a disputa seja justa.

O mais interessante por trás do semblante sisudo dos árbitros é que eles são de carne e osso, e todos, não apenas alguns, são líderes guiados por um líder único, neste caso, a Ana.

O respeito entre eles é algo que merece destaque, o mesmo dirigido a atletas, técnicos e dirigentes.

O momento da chegada das provas é seguido por uma chamada de números que parecem aleatórios: quatro, dois, um, três. Olhos por trás dos binóculos, fixos na linha de chegada para os casos de photo finish resolvido com o auxílio das filmagens.

Da lancha o rádio avisa: Procedimento de partida rápida. Não se ouve “portas em automático”, mas um grito de “Atenção! Sai!” Para mim que estou na transmissão das provas, começa a minha torcida para que a conexão da câmera não falhe e a internet não entre em recesso.

A vida de um juiz de remo é um tanto quanto ingrata, os aplausos que eles recebem é a nossa indiferença. O anonimato é a certeza de que seu trabalho foi bem executado. As pessoas que lerem este texto, podem se manifestar concordando com a minha percepção, como forma de reconhecimento aqueles que fazem o remo que não se vê.

Categorias: Crônicas

3 comentário

Erivelton · 2 de setembro de 2025 às 20:14

Meus parabéns pelo material, Seara! Belo relato! Gratidão.

Ivson Ferreira de Lima · 3 de setembro de 2025 às 21:23

Pontual em cada detalhe de sua fala. Vlw pela lembrança!

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