Levantando a voga

Publicado por historiasderemador em

Por Cesar Seara Neto

Conforme já citei noutra oportunidade, no dia 18 de abril de 1982, Hugo Seibel e eu, participamos da Copa Sul de Remo em Curitiba, onde conquistamos nossa primeira medalha de ouro, numa competição fora de Santa Catarina.

O fato de ser a primeira vitória em águas vizinhas, teve um grande valor, mas o que merece destaque maior foram os treinamentos durante o verão daquele ano, na água, corridas e um preparador físico na academia.

O que enriqueceu os treinamentos, eram as viagens de Canasvieiras ao Norte da Ilha de Santa Catarina, distantes 30 km do Clube, sempre ao lado do meu pai. Ouvíamos um programa que tocava somente músicas gaudérias, na Rádio Barriga Verde, o dial era 96.9 e se chamava, se não me engano, Raízes da Terra, ou Cheiro da Terra, se não é nenhum destes nomes, não importa. O acordeom dava um toque especial a viagem.

A prova foi disputada em 1.500 metros, acredito que era a distância máxima que a raia comportava. Combinamos que daríamos trinta remadas de saída, e depois entraríamos numa voga de percurso.

Voga na linguagem do remo se refere ao número de remadas por minuto, e o remador Voga, é o que está mais próximo a ré do barco, a parte de trás, pois é ele que cadencia as remadas, ditando a voga, do barco ou guarnição.

Combinamos também que quando chegássemos na altura dos mil metros de prova percorrida, restando os quinhentos metros finais, daríamos uma levantada, que significava, levantar a voga, ou seja, aumentar o número de remadas.

O comando para isto, era o assobio do professor Joel Cardoso, nosso técnico e principal mentor intelectual do barco, assunto para algumas crônicas.

Nós vínhamos remando bem, com uma voga talvez até baixa, algo como trinta e duas remadas por minuto, mas o barco do Rio Grande do Sul, era importado, mais leve e vinha na frente, talvez com quase um barco de vão.

Tirar aquela diferença, era algo quase impossível, mas quem conhece o Hugo, sabe que ele adora dar aquelas levantadas no final. Quando vimos a boia de mil metros, eu disse:

– Os mil metros.

Em seguida soou o comando, o único som que era possível distinguir em meio a torcida que sempre grita, e dentro d’água só se ouve um som homogêneo, que cresce em volume e euforia. Este som era o assobio, capaz de ligar o interruptor que aumentava a voga.

Há que se salientar, que aumentar a voga, significa aumentar a força que fazemos, para que o remo passe mais rápido dentro d’água, consequentemente aumentando o ritmo.

Em menos de dez remadas, estávamos lado a lado ao barco adversário, e jamais eu vou esquecer o olhar do voga, quando eu disse:

– Tu vais perder.

Aquele olhar me deu mais forças ainda, e nosso barco começou a andar mais do que em qualquer outra situação, e remada a remada fomos nos distanciando deles, até cruzar a linha de chegada.

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Ainda vejo o sorriso do Sady Berber, do meu pai e do meu irmão com onze anos de idade.

Pois bem, esta chegada memorável que narrei, foi para dizer que precisamos levantar a voga na nossa Vakinha e aumentar a arrecadação, para que seja possível realizar a contratação dos serviços de transmissão.

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Categorias: Crônicas

6 comentário

Andre Baracuhy · 6 de março de 2022 às 16:32

Boa história, bela lembrança, faz a gente recordar de boas provas vencidas no sprint final.

    historiasderemador · 6 de março de 2022 às 22:10

    sair na frente é importante, mas chegar na frente, é muito mais!

      Berta Helena · 10 de março de 2022 às 12:18

      Gostaria muito de participar da tua vaquinha. Acho muito interessante esta história e tbem da tua dedicação àquilo que gostas. Um abraço

Gibran · 8 de março de 2022 às 16:20

Esse esporte maravilhoso tem diversas belas histórias de superacao e reviravoltas como essa.
Show Neto.

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