Força versus resistência

Publicado por historiasderemador em

Por Cesar Seara Neto

A chegada da idade tem as suas consequências que nos incomodam, queda de cabelos, articulações que não dobram tão bem, mas o que mais me chateia são as manias.

Tenho seis dias por semana para treinar. O mínimo aceitável são quatro, cinco é o ideal. A folga deveria ser no meio da semana, quarta-feira, mas a mania de velho instituiu que fosse na sexta-feira.

Vi na previsão de ventos que a sexta seria um dia daqueles, rio parado, temperatura amena. Pedia uma remada no Skiff, aquele divã aquático onde encaro minhas fraquezas mentais e espirituais, e as venço com remadas fortes.

Subimos o rio em direção às taquareiras. Saí remando firme, mesmo depois de um longo tempo distante das águas, aguardando a retomada das obras da rampa. Ao meu lado estava o Mário dando a voga num Four Skiff, seguido pelo Gerson retomando as atividades, Lucas o mais novo aficionado, e o sorriso fácil do Cláudio Coxinha na proa.

A planilha ditava treino longo, ou seja, só remar. A intensidade deve ser de tal forma que você esteja com o batimento cardíaco sempre confortável. Mas quem remou sabe que basta um pedaço de isopor flutuando ao seu lado, que você fará a força necessária para andar mais do que aquilo, ainda que a voga seja baixa.

Subi o rio numa concentração daquelas, orgulhoso da escrita que as pás dos remos deixavam no espelho d’água, entrando e saindo limpas. No retorno da remada, o dorso da pá sem encostar no rio liso, de vez enquanto, algumas beliscadas leves sem comprometer a cena.

Cheguei um pouco antes do Four. Fiz a volta logo, goles preciosos d’água para recompor. Iniciei a descida sem esperá-los. Segui um bom pedaço do percurso dominando o barco e o cansaço que tentava dominar a mente. A cadência sempre a mesma, favorecida pela correnteza fraca do rio muito baixo, diferente daquele das enchentes.

Ouvi no barco ao lado, vamos dar dez remadas fortes. Mantive minha concentração, a mesma pressão empurrando as pernas. Porém, ao lado havia quatro pessoas e um só propósito, fazer aquele barco andar. Segui firme e forte em busca do meu objetivo, mas a cada sequência das tais dez remadas, eu os ouvia mais distantes, sobrava para mim apenas a espuma dos remos deixadas para trás.

Lembrei do que diz a malandragem: contra a força, não há resistência.

Categorias: Crônicas

24 comentário

NERY ROMARIO MOREIRA · 2 de fevereiro de 2025 às 13:23

E🥹 excelente

Joaquim Ameba · 2 de fevereiro de 2025 às 13:28

Excelente é pouco.

ROBERTO MULBERT · 2 de fevereiro de 2025 às 13:34

Sensacional!!!!
Seara Neto segue firme, forte e resiliente
Parabéns meu grande amigo

    historiasderemador · 2 de fevereiro de 2025 às 19:53

    é isso aí meu sota-voga. Quando te habilitas para contar as tuas histórias de remador. Uma dica. Praia do Zé Mendes.

Antonio Ricardo Lanfrefi · 2 de fevereiro de 2025 às 14:22

Seara , baita recado. O sentimento é esse mesmo. Abraço!!

Cláudio Nogueira de Castro (vulgo coxinha) · 2 de fevereiro de 2025 às 14:30

César Seara Passos Dias Arremar… Longo.
Brincadeira!
César Seara Neto, engenheiro, dedicado remador e amigo das letras…
Um contador de “História de Remador” Na bem escrita crônica deste final de semana, descreve com elegância as dificuldades de um corpo em “amadurecimento” um corpo quase sex…sexagenário!
Não basta ser diário, mas tinha que ser as 6h da manhã😅?
É nesse horário que a diminuição do vento favorece a prática do remo. Mas pra chegar no GPA, ainda tem aquela função. Revisar a mochila feita no dia anterior, preparar o alimento pré e pós treino; pegar o cabide de roupa para o trabalho e colocar todo o kit no carro.
No caminho com a cidade vazia, em que muitas vezes ainda é noite, somos acompanhados da pergunta que não quer calar:
“Será que vai dar água?”
Como ele bem disse, quem rema sabe!!! Sabe da fissura que é subir a voga e ver o barco deslizar mais rápido no estuário. Quem rema também sabe que a voga do barco ao lado estimula igualmente o single ou qualquer guarnição.
Nessa hora adrenalina aumenta, assim como a produção de endorfina que nos faz superar o cansaço!
Quem ainda não é do remo agora sabe!
Agora também fica sabendo o Coach João Gonçalves, que em determinado momento mudamos o treino que era para ser apenas longo e não com tiros …
Pô Seara, que dedo duro!!!

    historiasderemador · 2 de fevereiro de 2025 às 19:50

    Esse teu comentário já pode ser considerado como uma lauda. Fica aqui o convite para discorrer tuas histórias de remador num fim de semana da tua escolha!

CLAUDIO BEZERRA DE SENA · 2 de fevereiro de 2025 às 14:32

Tudo o que esse grande guerreiro posta é de muito proveito,e um grande divulgador do nosso Remo brasileiro.

Acácio · 2 de fevereiro de 2025 às 15:13

E viva a determinação e persistência dos remadores!

Rosane · 2 de fevereiro de 2025 às 15:28

Excelente texto… da pra visualizar a cena… mas o melhor de tudo foi o comentário do coleguinha dedurado😅😅😅

    Gilberto Oliveira · 2 de fevereiro de 2025 às 17:05

    Parabens, meu Amigo. De remada em remada, te desejo uma longa vida.

    historiasderemador · 2 de fevereiro de 2025 às 19:46

    Já vi que além de simpático, sabe escrever. Terá a sua coluna para discorrer suas histórias de remador

Cesar Seara (Pai) · 2 de fevereiro de 2025 às 19:39

Como pai, sou suspeito em emitir meu comentário, mas o orgulho fica evidente!!!!

Sergio Luiz Fleck · 3 de fevereiro de 2025 às 11:02

Texto excelente, parabéns. Bom eu gostaria de estar nesse four, com Mario firme na voga. Sempre bons treinos. Ótimo incentivo. Forte abraço Seara, uma inspiração para nosso grupo

Eric Menezes · 8 de fevereiro de 2025 às 17:33

Adorei a crônica. Achei graça quando você
fala do pedaço de isopor boiando. É verdade! Já é o suficiente para aumentar um pouco a voga e a passagem…Rs

Deixe uma resposta

Espaço reservado para avatar

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

pt_BRPortuguese