Resiliência

A primeira vez que ouvi esta palavra foi quando eu era vendedor técnico de argamassas. Estas devem ser resilientes para suportar a dilatação que os materiais sofrem em razão da variação térmica. Aqui no Rio Grande do Sul entre verão e inverno temos uma diferença de temperatura de até quarenta graus. Haja resiliência, não só das massas para reboco, como também do povo que vive aqui.
Moro há mais de trinta anos em Porto Alegre. Hoje entendo por que era tão difícil vencer os gaúchos nas regatas. As provações historicamente que foram submetidos fazem parte do seu cotidiano, as invasões castelhanas ou o confronto com a Coroa Real, moldaram este povo, que muitas vezes valoriza mais a peleia, do que o resultado dela em si. Não adianta, está no sangue.
Hoje fui obrigado a percorrer vinte e cinco quilômetros além do normal para ir e voltar ao G.P.A., o clube de remo mais antigo do Brasil. Teria eu feito isso para queimar mais combustível fóssil aumentando o efeito estufa, ou seria mais um sinal de senilidade? Nada disso, mais uma vez a administração pública não ouviu a ciência tão bem utilizada pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS.
Este mesmo órgão que previu com detalhes de centímetros a tragédia de maio de 2024, tendo alertado de forma oficial, não somente o município, mas também ao governo do Estado. Entretanto, as ações àquela época do fechamento das comportas ocorreram quando a água molhou a polpa das nádegas causando desconforto e pânico na população.
Neste mês de junho que se findou, a previsão era de que a água subiria, digamos, ali, no limite para transbordar, talvez passasse um pouco, porém, como era necessário mostrar eficiência, sacos de areia socaram argila a fim de criar barreiras provisórias intransponíveis nas polêmicas e oxidadas comportas.
Nós, o povo, acreditamos mais uma vez. Agora o barro foi largado. Parênteses, se não notaram ironia na frase, pensem numa gíria que é associada ao número dois. Recebemos como sempre, com imensa surpresa, o prazo de DEZ MESES, ou seja, UM ANO na prática, para a retirada dos bloqueios temporários. Somente após a implantação dos projetos definitivos das comportas, é que nos veremos livres do “barro largado” a céu aberto.
O vereador Leonardo Monjardim de Vitória, ES, aprovou lei transformando o Remo em patrimônio imaterial na capital dos capixabas. Enquanto não acontece o mesmo aqui na capital dos gaúchos, fico imaginando quantas voltas já deu no seu túmulo, Olavo Bilac, o autor da célebre frase: “Dia virá que se há de reconhecer a grandeza dos serviços que os clubes de regatas estão prestando ao Brasil.”
Apresentação utilizada pelo Prof. Dr. Dilermando
1 comentário
Vera Bianchi · 8 de julho de 2025 às 10:23
Enquanto tiver uma mentalidade midiática populistas conduzido questões técnicas e efetivas, teremos governos gaúchos cada vez menos eficazes no quesito de resolver os problemas. Saudades daqueles que previram e executaram o muro. Hoje querem ver o povo no barro, na argila. Se andar por este Rio Grande do Sul, uma memória apagada de um passado forte e aguerrido. Um história que não se conta mais.