SOBRE O REMO
Quando decidi fazer uma aula teste de remo, foi por uma combinação de fatores. Queria escolher um esporte para manter a saúde, tinha visto um barco no lago e achado bonito e passei pelo clube, que hoje é minha segunda casa, e vi um outdoor escrito “Remo”. Já havia passado por lá inúmeras vezes, mas naquele dia o outdoor me chamou a atenção. Cheguei em casa e contei para a minha família: “Acho que vou fazer remo!”. O que eu não imaginava é que isto mudaria tanto a minha vida. Na primeira aula, quando sentei no barco escola, achando ingenuamente que era quase um barco profissional, foi como se tivesse procurado aquele esporte a vida toda. Sério! Não consigo explicar a sensação que senti, mas foi como se fosse o “meu esporte”, o “meu lugar”. Quando, desajeitadamente, consegui mover o barco e me vi no meio do lago, fiquei muito feliz em estar ali, em me ver como parte daquela imensidão de água. Voltei encantada para a rampa e fiz imediatamente o plano de vários meses, porque já estava ansiosa para começar a segunda, a terceira, a quarta aula… A vontade era de naquele dia mesmo ficar mais tempo ali remando. À medida que fui aprendendo sobre o movimento no barco e o difícil ballet entre braços, tronco, pernas, remos e carrinho, mais queria saber, aperfeiçoar, compreender. Apanhei (e apanho) um monte para tentar ser ágil e calma, rápida e precisa, relaxada e forte… e me perguntei inúmeras vezes por que não descobri o remo mais cedo. Deve ser uma das coisas mais difíceis que já inventei de fazer, mas não há um dia que eu não queira estar na água e me desafiar de novo a fazer melhor. Com o tempo e a experiência intensa (porque eu queria e quero aprender tudo ao mesmo tempo e rápido), veio o conhecimento dos outros barcos. Do barco escola (um canoe) para o mini skiff para o baby skiff para o skiff para o four, o oito, o double… Cada barco um novo desafio, uma aplicação mais detalhada do que havia vivenciado sozinha e precisava entender no conjunto. Com os novos barcos, novas amizades e o estabelecimento de conexões que não conseguimos explicar para quem é de fora. Quando um barco coletivo acerta a remada e voa, não dá para colocar em palavras como a sensação é fantástica! É como se duas, quatro, oito pessoas pudessem ser uma só e toda aquela enorme energia concentrada fosse igualmente dividida entre todos. Nem sempre é lindo, claro. Há dias em que o corpo não responde, o pensamento está fora do barco por problemas que todos temos, o lago não colabora, algum problema técnico ocorre… mas a lembrança de um dia perfeito, de uma remada exata é tão intensa que queremos repeti-la. Todos os dias tentamos recuperar esta sensação. Há momentos bons em que ela ocorre, há momentos ruins que nos ensinam o que não fazer de novo. E assim vamos remando lago acima, lago abaixo. Algumas pessoas nos perguntam se não é chato repetir o mesmo movimento tantas vezes ou assistem às competições e não conseguem enxergar por que gostamos tanto deste esporte. Não dá para argumentar com alguém que não tenha entrado no barco, sentido no corpo e na alma o que é estar ali. O remo é feito para ser sentido! Assistir é bom, sim, mas é muito melhor quando você já remou e assiste como se quisesse estar dentro dos outros barcos. É porque quem rema não observa as competições impunemente, mas tem vontade de pular na água e remar junto ou aprender a remar tão bem quanto aqueles atletas que, de fora, parecem perfeitos. Remo é um vício! O melhor vício que alguém pode ter. Todos os dias, acordando cedo ou remando no final da tarde, agradeço por ter encontrado um esporte tão completo. Não apenas por trabalhar o corpo todo, mas por tocar a alma e nos fazer pensar que nosso coração pode ser maior. Sim, há pesquisas que dizem que o coração dos remadores é literalmente maior do que o dos atletas de outras modalidades. Vai ver é para caber tanta intensidade e tanto amor.
Conheçam a página Contos do Breve Cotidiano da autora, ela é uma ARTISTA
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3 comentário
Lilia · 22 de setembro de 2022 às 10:31
Que texto lindo e que foto incrível! Quando o encantamento pelo Remo é demasiado grande, essas pessoas se envolvem para além do seu próprio prazer e passam a se doar para o Remo em outras esferas, por exemplo entrando para a Federação e vestindo essa camisa. Alê é atualmente da diretoria da Federação de Remo de Brasília, onde nossos corações de remadoras vibram em voga alta ! ❤
Nelson Mota Gomes · 22 de setembro de 2022 às 19:58
Quem conhece a Alê não esquece jamais!!! Uma mulhaer grande, de gestos doces e palavras solidarias para quem precisa. Pois é!!! Alê se apaixonou pelo remo, conheceu pessoas e aos poucos, como mesmo retratou foi se ajustando ao barco, que a prineira vista, a sensação que a gente tem é de que vc não vai consegiir ficar em cima , e muito menos remar.!!!…kkkkkkk isso aconteceu comigo tb, qdo fui remar pela primeirs vez. Nesse texto que vc escreveu passa um filme na cabeça de quem já sabe renar, e uma expectativa pra quem vai ver esse filme oela prineira vez. Sua história com o remo é a mesma de mta gente, que procura o temo como opção, e com o pasar do tempo o remo acaba vi virando uma paixão!!!
Renato Lisbôa Müller · 25 de setembro de 2022 às 20:24
Um texto maravilhoso…. Quem assisti uma prova, tendo sido Remador e depois lê esse maravilhoso texto, com certeza, fica emocionado. Parabéns!