Afiando o serrote

Publicado por historiasderemador em

Por Cesar Seara Neto

Já manifestei noutra oportunidade sobre a dialética, ferramenta ou técnica muito utilizada pelos pensadores na Filosofia, matéria que deveria ser mais ensinada, me arrependo de ter tido contato com ela somente aos quarenta anos de idade.

A dialética funciona mais ou menos assim, uma tese é levantada. Uma antítese, o oposto da tese faz o contraponto. Uma síntese das duas ideias é o resultado, diferente das duas, mas ao mesmo tempo, contendo parte delas ao final das contas. Em tempos de dicotomia fica difícil imaginar isto, uma vez que as pessoas cada vez mais, andam somente num lado da calçada.

Numa das várias conversas que tive, levantei uma tese, de que aqui no nosso país, independente do ramo que seja, nossa maior alegria é atirar pedras nos que se candidatam aos cargos de liderança.

Quem chega a um posto deste, seja por voto ou indicação, costuma mudar toda a mobília do imóvel, como se isto alterasse o curso da história, sob a desculpa para não se contaminar com algo que possa ter permanecido, daqueles que deixaram o recinto.

A dialética deveria ser mais exercitada. A palavra remete a diálogo, um fala, o outro escuta de cada vez, e assim as conversas se prolongam, os aprendizados são mútuos, os cérebros se engrandecem e agradecem.

Há quem assuma a liderança e se esqueça o maior objetivo do líder, conquistar pessoas, tocar seus corações. Do líder é esperado que saiba ouvir, e discernir as críticas aos seus atos, de críticas à sua pessoa.

Um grande problema latino é nossa carga emocional que nos direciona aos adjetivos, tornando os substantivos menos importantes, uma inversão de prioridades não desejada.

Este movimento de altos e baixos que a gestão acaba sofrendo graças as pedras atiradas, pelo puro prazer de ouvir os estilhaços das vidraças caindo, me lembra a figura dos dentes dum serrote, pontas acima, vales abaixo. Quem já utilizou esta ferramenta, sabe que os dentes precisam ser afiados, mas isto não basta, é necessário que eles sejam inclinados para um lado e para o outro, de forma alternada. Isto se deve para que o corte na madeira, seja um pouco mais largo do que a lâmina do serrote, e assim o vai e vem possível.

Lembro de um patrão que tive, o mesmo que considerava os operadores dos equipamentos, como gerentes das máquinas, ele diz, de vez em quando tem que parar e afiar o serrote.

Fica aqui a reflexão para nós apaixonados pelo Remo, dirigentes ou não, como está o serrote? Estamos serrando as madeiras para construir novos Remos, ou estamos a gastar os dentes afiados do serrote, nos próprios Remos que propulsionam os nossos barcos?


2 comentário

Antonio Lanfredi · 2 de março de 2024 às 09:20

Muito boa essa tirada “ nossa carga emocional que nos direciona aos adjetivos, tornando os substantivos menos importantes”. Os adjetivos tomam a frente e fazem o papel dos substantivos.
Filosofar: exige tempo e desprendimento sobre o que já está estabelecido. Tempo é raro. Desprendimento é difícil. E a criatividade emerge das filosofias. Algumas “fora da casinha”, outras “fora da caixa”. Filosofar é necessário. Nunca tive filosofia na escola, mas valorizo quem tem isso no sangue.
Boa a reflexão. Bom fim de semana.

    historiasderemador · 5 de março de 2024 às 10:14

    Ao ler o comentário, me despertou uma ideia para mais uma crônica, mas não registrei e agora a ideia está flutuando no vento. Muito bom receber feedback

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