Ainda sobre medalhas

Publicado por historiasderemador em

Por Cesar Seara Neto

A densidade absoluta dos elementos químicos cresce em direção ao centro da Tabela Periódica e para a parte inferior. Não é a toa que o ouro está nesta região. Metal tão disputado em toda a nossa história humana. Seu valor reside na sua pureza, não se mistura facilmente a outros elementos. Além da sua beleza dourada, representa status, poder, riqueza. Eu prefiro chinelo de dedos, mas há quem se encante por cordões d’ouro espessos.

O sábado outonal amanheceu com o frescor que lhe convém. Ausência completa de nuvens, promessa de pouco vento e aumento gradual da temperatura, não ultrapassando os limites do que chamamos de agradável. O que mais podemos desejar para uma manhã de competição de Remo?

Acordamos vinte minutos mais tarde do que o habitual cinco e dez. Necessário passar na casa de um dos arroz de festa do Remo, a Renata, minha cunhada. Regata sem os seus griots Dale GPA, não é a mesma coisa.

O que eu tento contar aqui, não é sobre os minimismos das etapas da remada, isto eu deixo para os especialistas. Afirmo, no Brasil há inúmeros, o canal está aberto para vocês. O que me agrada é o que as medalhas não são capazes de contar. Não apenas os bastidores, mas aquilo que é invisível, impalpável, tangível apenas para quem tem coração.

Durante mais de um ano de caronas esporádicas, muitas conversas avulsas e difusas, uma colega de trabalho da Gica, minha companheira, assistente de bastidores e palco, resolveu assistir a uma Regata. Acertada escolha. Dia maravilhoso na Ilha do Pavão, sede do Grêmio Náutico União, famosos pela sua receptividade e maestria como anfitriões. Cada vez que eu sento na balsa rumo a Ilha, é como se fosse a primeira vez do ano de 1981.

Ela é uma mulher inteligente e altruísta, levou consigo a sua mãe e entre garrafas de chimarrão, tiveram seu primeiro contato com o mais completo de todos os esportes.

Por mais que eu tente explicar o esporte e os motivos da paixão, não encontro argumentos e fatos, mas tentarei deixar as mesmas lágrimas que correram durante a transmissão da prova, explicar o que se passa na torcida. Experimente observar as reações de um torcedor numa regata, quer seja ele um amigo, parente ou até mesmo um técnico, daqueles que durões, de poucos sorrisos e palavras, que já foram atletas de alto nível e sabem muito bem o que se passa dentro dum barco.

As pessoas gritam palavras de ordem, Vai Clube tal, Vamos seguido dos nomes dos atletas, aumenta, É agora e tantas outras coisas ditas ao mesmo tempo. Aos ouvidos de quem compete, é apenas um ô ô ô, é é é, constante, uníssono. A medida que a prova vai se encaminhando para o final, aquele momento que a bolinha de proa fura a linha imaginária da chegada, a adrenalina aumenta. A frequência cardíaca é dominada pelo ácido lático que corre no sangue dos atletas, músculos são penalizados. A vontade de vencer tem que ser maior do que os comandos do cérebro dizendo: você não vai aguentar vou derrubar o disjuntor geral.

O torcedor corre tentando acompanhar a velocidade dos barcos. Olhos fixos n’água, a garganta secando de tanto gritar. Sem saber como, o torcedor desvia obstáculos que estão a sua frente, um robusto eucalipto ou uma senhora que já não consegue mais correr tão rápido e permanece sentada a sua poltrona confortável.

Aquele grito forte, próximo a linha de chegada sai alto, firme como é a voz de que alguém que já competiu com aquela mesma idade. Vai filha!

Ao reconhecer a voz daquele pai, quis o Remo me dar o prazer de chama-lo de amigo, minha voz travou durante a transmissão, lágrimas secas rolaram na minha face.

Encerro a crônica mandando um beijo a Vó Tereza, conforme solicitado ao vivo pelo Lucas que venceu a prova do Skiff Sub 17. É isto que dignifica o esporte. É isto que me move a contar.

Registro com belas imagens a seguir, tal qual a que ilustra este post.

Créditos Bruna Cabrera, Bruno Becker e Jossiano Leal.

https://photos.app.goo.gl/ieMiWYEMSV9Binpx6


10 comentário

Fabio Nogueira · 21 de abril de 2024 às 13:46

Bahhh, realmente foi emocionante e confesso que em mim caiu lágrimas. Parabéns pelo registro transcrito aqui Seara e uso seu bordão mais do que nunca “ Medalhas não são capazes de contar”. Grande abraço

Seara Pai · 21 de abril de 2024 às 14:15

Na emocionante narração

RobertoMilbert · 21 de abril de 2024 às 18:45

Crônica espetáculo, emocionante!!!!!!

TingaDunha · 21 de abril de 2024 às 20:47

“Medalhas não são capazes de contar”

Paulo Quadros · 22 de abril de 2024 às 11:20

Bela Crônica, não bastava o choro pela vitória da minha filha agora o choro pela crônica.

Observação: Estou sem voz, mas pelo melhor motivo possível.

Abraço meu amigo.

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