Olha a Proa

Publicado por historiasderemador em

O barco quatro com timoneiro foi durante muito tempo, a primeira prova das Regatas, e por isto, uma das mais importantes. Cada remador utiliza apenas um remo e são conduzidos ou guiados pelos timoneiros. Este tipo de remo, é chamado de ponta, ou palamenta simples.

Os Jogos Olímpicos se modernizaram e passaram a ter mais modalidades de esportes sendo disputadas. O número de participantes envolvendo atletas e pessoas que trabalham no evento, aumentou consideravelmente, e na mesma proporção, os custos para transporte, hospedagem e alimentação dos atletas, não deixando de citar os custos para organização da competição em si.

Visando reduzir os custos operacionais, foi decidido que a última disputa nas Olímpiadas, dos barcos Quatro Com e Dois Com Timoneiro, ocorresse em Barcelona, no ano de 1992. A partir do ano de 1996, em Atlanta foram disputadas somente as provas de Dois Sem e Quatro Sem Timoneiro. A clássica prova do Oito, sempre foi disputada Com Timoneiro e ainda é até os dias atuais.

Alguns clubes mantêm em suas flotilhas, os barcos Quatro com Timoneiro. Provas são disputadas em regatas de Remo Master, ou em campeonatos locais.

É natural que hoje em dia se dê atenção ao Dois e Quatro Sem Timoneiro, cabendo ao remador que vai sentado mais próximo a proa[1] do barco, verificar a direção a ser seguida.

Dois sem Timoneiro (fonte: pixabay)

Acontece que uma das dificuldades do nosso esporte é remar de costas para o nosso destino, nossa anatomia foi projetada para olhar para frente, sendo o proa obrigado a se virar para trás, olhando pelos dois lados, a fim de evitar a colisão do barco com algum obstáculo móvel, outra embarcação por exemplo, ou fixo, boias, estacas, barcos a vela apoitados[2], etc.

Ainda que olhar para os dois lados seja necessário, nem sempre é suficiente para se visualizar os indesejados obstáculos, muitas vezes estão posicionados exatamente a proa, ficando num ponto cego da visão do proa, o remador.

Os barcos a remo têm por característica serem construídos com finas lâminas, antes de madeira, hoje em dia de fibra, a fim de se evitar o peso excessivo, diminuindo sua velocidade e exigindo mais esforço dos remadores.

Qualquer contato com algum obstáculo é capaz de romper o delgado casco. Por isto o proa carrega uma responsabilidade enorme, além de acompanhar o ritmo do voga[3], e cuidar por onde vai o barco. Porém, nem sempre os obstáculos FIXOS são obedientes. Parece que eles possuem uma capacidade extraordinária de penetrar na mente dos exaustos remadores, eliminando qualquer registro de suas memórias e como num passe de mágica, surgem n’água tal qual o mitológico Monstro do Lago Ness.

Para aumentar a tristeza dos remadores, estes eventos normalmente acontecem quando alguma testemunha ocular está por perto, e ainda por cima, quando são pretensos cronistas, que não tem mais o que fazer, a não ser escrever sobre a remada alheia.

Quis o destino, que o último evento ocorrido num Dois Sem que vinha remando com muita plasticidade, encontrasse um teimoso tronco de árvore, preso ao fundo do rio, num formato de forquilha, servindo quase que como uma cama, para que o barco se encaixasse exatamente neste vão.

Devido às poucas chuvas neste verão, o nível do rio está muito mais baixo do que o normal, ressaltando um pouco mais o toco. O Dois Sem ficou como se estivesse apoiado num cavalete no centro do barco.

Prontamente as guarnições que encerravam seus treinos, se dirigiram até o local, tentando acalmar o Dois Sem. Várias opiniões foram trocadas, todas com muita calma, outra guarnição se dirigiu até o Clube para que tentassem contato por telefone com o técnico que estava na lancha, distante do local.

Entretanto, a fim de diminuir os comentários que certamente viriam, e se valendo da sorte, havia uma parte submersa do tronco, onde foi possível a guarnição se apoiar, saindo do barco, liberando o peso, e colocando-o de volta na água, sem que qualquer dano tenha ocorrido.

O único problema ocorrido no barco, é esta crônica escrita com personagens fictícios de carne e osso. Esclarecemos que questionamentos sobre as identidades, inclusive a do cronista, não serão revelados.


[1] A parte dianteira do navio se chama proa.

[2] Ancorados

[3] Remador mais próximo da traseira do barco, é o que dá o ritmo e cadência das remadas.


6 comentário

Rosane · 23 de janeiro de 2022 às 21:36

Boa aventura! Paparazzi a postos!!!😉

SERGIO LUIZ FLECK · 24 de janeiro de 2022 às 08:19

Pô, muito divertido e bem escrito. Mas o alerta em relação a troncos submersos é sempre muito válido. É muito fácil e rápido não perceber. Muitas vezes estão a poucos centímetros abaixo da superfície. Por mais que esteja atendo, o proa simplesmente não consegue perceber. Pimba!!

    historiasderemador · 24 de janeiro de 2022 às 09:09

    Ainda bem que ninguém se machucou!!! Realmente, toda atenção é pouca. O monstro do Lago Ness aparece sem o menor aviso.

Regina · 24 de janeiro de 2022 às 08:41

Ótima explicação,principalmente para quem não é remador.

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